E se tivesse acontecido […].
Muito provavelmente esta frase é uma das mais ouvidas por historiadores, filósofos, antropólogos e outros profissionais da área das humanidades. A questão da dúvida vinculada à curiosidade é muito fértil para desenvolvermos nossos pensamentos, mas também impõe desafios metodológicos e epistemológicos ao estudioso.
Como trabalhar com a partícula se dentro do discurso histórico? A afirmação “não existe se na História” é garantia de objetividade? O que aconteceu, aconteceu e ponto final? Se assim fosse a narrativa histórica seria natimorta, pois nada mais haveria para ser escrito.
Muitas das novas percepções históricas se deram a partir dos incontáveis se’s que habitaram e habitam as cabeças e corações dos estudiosos. Desde as variadas formas de escrita que abrem outras possibilidades de leitura de um mesmo documento/acontecimento, até o duro enfrentamento que o se impõe às ditas fontes oficiais. Ora, se caminha ao lado daqueles que não desejam sufocar a imaginação, a criação e, por conseguinte, a educação.
Por esse motivo, a proposta deste livro tocará em alguns se’s sobre um personagem romano do século I d.C. e sua magna obra: e se a escrita da história não fosse marcada pelo sangue e guerras? Como se escreveriam os textos de história? E se Plínio, o Velho, o autor aqui trabalhado, não foi um acumulador de fatos e crendices aleatórias e, sim, um novo modelo de historiador?
E se houvesse a possibilidade de ler a sua obra História Natural como uma obra do gênero de história, como seria? E se Plínio resolveu destacar os pequenos feitos e não os grandes feitos? Tantos se’s. Todas estas interrogantes serão abordadas aqui pelo viés da traição já que há de trair a tradição para que a inovação seja gestada.
Traição feita por amor à história e não para prejudicar os outros como, no melhor da literatura, Ariano Suassuna, apresentava os seus mentirosos que mentiam por amor à arte.