Na América Latina e no Caribe, a colonialidade é um dos elementos constitutivos e específicos de um padrão de poder em que a imposição de uma classificação étnico-racial em sua população desempenhou um papel fundamental. Analisar como ela opera, tanto no campo macrossocial como no microssocial e subjetivo, requer o uso de novas epistemologias e reconheciemnto dos coletivos de forma a reconhecer o lugar de fala. Sabe-se a questão racial é uma invenção histórica colonial cujos efeitos afetam o destino social e a existência cotidiana daqueles que habitam essa região.

Nesse contexto, o trabalho assenta-se em dar voz a coletividade indígena e por meio dela ter a possibilidade de analisar as relações sociais por meio de um laboratório social pautado pelo lugar de fala. É observar os espaços de fala e silenciamentos das diversas situações. É constatar a singularidade e a multiplicidade de ações e movimentos envoltos na cotidianidade.

Na cultura indígena a liderança tem um papel fundamental para a tomada de decisão na comunidade e dar prosseguimento aos ordenamentos coletivos de manutenção do grupo e da etnia. Nesse sentido, À Escuta Da Aldeia: Marcadores Sociais E A Memória Nas Comunidades Indígenas No Brasil Meridional apresenta alguns elementos de caracterização do grupo inserido nessa nova conjuntura como indicativo primário ao novo papel da liderança ou das lideranças kaingang após a promulgação da Constituição Cidadã.

À Escuta Da Aldeia busca tecer olhares acerca das memórias de lideranças indígenas kaingang assentados em suas experiências de origem e formação. Dessa forma busca-se por meio do relato das lideranças aproximar as perspectivas de pesquisa com o depoimento dos indivíduos que falam dos seus espaços atuação e cotidianidade. O trabalho ao utilizar-se de diferentes memórias desenvolveu uma espécie de memória guarda-chuva considerando que todos os depoentes responderam as mesmas perguntas e tiveram como tema gerador o uso da terra.

Sabe-se que a relação estabelecida dos povos originários com a terra – seus usos e outros desdobramentos – está diretamente ligada à sua ancestralidade. Nesse contexto, buscou-se destacar as falas que tiveram como eixo central o uso e significação da terra a coletividade.