Billie Holiday

Negra, pobre, prostituída, vulnerável e com uma voz lânguida e vigorosa, Billie Holiday (1915-1959) – desde as ruas do Harlem até as mais prestigiosas salas de espetáculo – lutou a vida toda para se impor.
Sexo, álcool, drogas, Lady Day queria experimentar tudo.

Foi no palco, cantando músicas que se tornariam clássicos, que ela viveu a única experiência verdadeira do amor.
Seu nome virou sinônimo de jazz, e sua vida – numa época em que a população dos Estados Unidos estava dividida entre brancos e negros – foi um caminho para a liberdade.
Quando, em fevereiro de 1948, a imprensa nova-iorquina anunciou que o Carnegie Hall acolheria Billie Holiday para um único show no dia 27 de março seguinte, 2.700 entradas foram vendidas somente naquela tarde.
Na noite da apresentação, centenas de pessoas se aglomeravam no cruzamento da Sétima Avenida com a Rua 57, diante do templo da consagração musical, tentando comprar entradas, dispostas a pagar duas ou três vezes o preço inicial. Quem teve mais sorte conseguiu comprar lugares no fundo do palco, atrás da cantora, enquanto os demais passaram a noite em pé...
Billie Holiday apareceu, saudada por um murmúrio de admiração e por assobios entusiásticos. Envolta em um vestido negro muito justo, cuja fenda deixava entrever suas pernas, usava longas luvas brancas que, pelo menos desta vez, não haviam sido colocadas para esconder as marcas de picadas de agulha.
Seus cabelos estavam erguidos acima da cabeça por uma tiara escura contra a qual se destacavam três gardênias brancas. Seus olhos inquietos percorriam a maré humana que se agitava além da ribalta. Ela relançou um olhar ao quarteto que a acompanhava, sorriu nervosamente e iniciou a interpretação de All of Me. Tão logo as primeiras notas foram identificadas, já desencadearam uma ovação. Ela recuperou um pouco de confiança. Eles não a tinham esquecido.
Parecia não haver nenhuma ordem estabelecida para o programa. Entre as peças, ela se virava para o pianista, Bobby Tucker, indicando-lhe sotto voce o título seguinte. Uma perfeita osmose musical suplementava a falta de preparação.
Dez dias antes, ela ainda estava na cadeia.
Some Other Spring, Billie’s Blues, You’re Driving me Crazy... Ela ia encadeando as melodias e, à medida que crepitavam os aplausos, recuperava a confiança. Sua fisionomia estava transfigurada pelo reconhecimento do público e sua voz pungente despertava as emoções na plateia.
Billie tinha razões para sentir-se melancólica. Recém saíra de uma prisão em que havia passado um ano e um dia, parte do tempo fazendo um tratamento de desintoxicação. Um ano sem drogas, um ano sem cantar uma única nota...

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Negra, pobre, prostituída, vulnerável e com uma voz lânguida e vigorosa, Billie Holiday (1915-1959) – desde as ruas do Harlem até as mais prestigiosas salas de espetáculo – lutou a vida toda para se impor.
Sexo, álcool, drogas, Lady Day queria experimentar tudo. Foi no palco, cantando músicas que se tornariam clássicos, que ela viveu a única experiência verdadeira do amor.
Seu nome virou sinônimo de jazz, e sua vida – numa época em que a população dos Estados Unidos estava dividida entre brancos e negros – foi um caminho para a liberdade.
Quando, em fevereiro de 1948, a imprensa nova-iorquina anunciou que o Carnegie Hall acolheria Billie Holiday para um único show no dia 27 de março seguinte, 2.700 entradas foram vendidas somente naquela tarde.
Na noite da apresentação, centenas de pessoas se aglomeravam no cruzamento da Sétima Avenida com a Rua 57, diante do templo da consagração musical, tentando comprar entradas, dispostas a pagar duas ou três vezes o preço inicial. Quem teve mais sorte conseguiu comprar lugares no fundo do palco, atrás da cantora, enquanto os demais passaram a noite em pé…
Billie Holiday apareceu, saudada por um murmúrio de admiração e por assobios entusiásticos. Envolta em um vestido negro muito justo, cuja fenda deixava entrever suas pernas, usava longas luvas brancas que, pelo menos desta vez, não haviam sido colocadas para esconder as marcas de picadas de agulha.
Seus cabelos estavam erguidos acima da cabeça por uma tiara escura contra a qual se destacavam três gardênias brancas. Seus olhos inquietos percorriam a maré humana que se agitava além da ribalta. Ela relançou um olhar ao quarteto que a acompanhava, sorriu nervosamente e iniciou a interpretação de All of Me. Tão logo as primeiras notas foram identificadas, já desencadearam uma ovação. Ela recuperou um pouco de confiança. Eles não a tinham esquecido.
Parecia não haver nenhuma ordem estabelecida para o programa. Entre as peças, ela se virava para o pianista, Bobby Tucker, indicando-lhe sotto voce o título seguinte. Uma perfeita osmose musical suplementava a falta de preparação.
Dez dias antes, ela ainda estava na cadeia.
Some Other Spring, Billie’s Blues, You’re Driving me Crazy… Ela ia encadeando as melodias e, à medida que crepitavam os aplausos, recuperava a confiança. Sua fisionomia estava transfigurada pelo reconhecimento do público e sua voz pungente despertava as emoções na plateia.
Billie tinha razões para sentir-se melancólica. Recém saíra de uma prisão em que havia passado um ano e um dia, parte do tempo fazendo um tratamento de desintoxicação. Um ano sem drogas, um ano sem cantar uma única nota…

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