Comunicação E Estranheza

Ao aforismo de Paul Watzlawick “não é possível não comunicar”, Niklas Luhmann apontou a necessidade de revisão: por um lado, ele é apenas válido nos modelos de interação presencial

(perante receptores distantes e desconhecidos, não dar qualquer sinal de intenção de comunicar é, em definitivo, não comunicar, ao invés do que pode acontecer quando dois interlocutores, no mesmo espaço físico, não estabelecem diálogo, troca de olhar ou qualquer outra manifestação, mas entre os quais pode dizer-se existir troca de mensagens), e por outro, pode apenas aplicar-se em relação ao que não se comunica (na medida em que a intenção de comunicar terá sempre que vencer obstáculos para poder concretizar-se, arriscando sempre não ser bem sucedida, enquanto um acto aparentemente não-comunicativo, o silêncio por exemplo, contém em si necessariamente comunicação).
Não sendo objetivo desta análise explorar, em particular, o que distingue as concepções da Escola de Palo Alto e da teoria sistêmica, o certo é que ambas tocam de muito perto a forma como aqui se pretende pensar a comunicação e delas é possível retirar as duas componentes do fenômeno comunicativo que estão na origem deste trabalho. Uma vez que é a vertente da comunicação interpessoal, do face-a-face – ou do rosto-a-rosto, para introduzir desde já um conceito caro a um dos autores que se privilegiarão, Emmanuel Lévinas –, que aqui se tratará, esta análise partilha, se não a ideia da inevitabilidade da comunicação, como pretende Watzlawick, pelo menos assumidamente a da sua iminência constante, da sua latência quotidiana. Na presença de um interlocutor, com ou sem intenção de estabelecer com ele qualquer relação intersubjetiva, ainda que no mais profundo silêncio, mesmo que entre dois absolutos desconhecidos, é sempre a comunicação que se perfila no horizonte.
Contudo, são inúmeras as dificuldades e obstáculos que enfrenta a concretização de um processo que se assume como pilar indiscutível das relações humanas. E é nesse sentido que, percorrendo contudo outros caminhos, não deixa aqui de seguir-se o trilho para que aponta a tese luhmaniana de que a comunicação reclama ser tratada enquanto problema e não enquanto fenômeno tido por garantido e a roçar contornos de processo resultante de geração espontânea em que a proliferação de meios faz acreditar.

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Não sendo objetivo desta análise explorar, em particular, o que distingue as concepções da Escola de Palo Alto e da teoria sistêmica, o certo é que ambas tocam de muito perto a forma como aqui se pretende pensar a comunicação e delas é possível retirar as duas componentes do fenômeno comunicativo que estão na origem deste trabalho. Uma vez que é a vertente da comunicação interpessoal, do face-a-face – ou do rosto-a-rosto, para introduzir desde já um conceito caro a um dos autores que se privilegiarão, Emmanuel Lévinas –, que aqui se tratará, esta análise partilha, se não a ideia da inevitabilidade da comunicação, como pretende Watzlawick, pelo menos assumidamente a da sua iminência constante, da sua latência quotidiana. Na presença de um interlocutor, com ou sem intenção de estabelecer com ele qualquer relação intersubjetiva, ainda que no mais profundo silêncio, mesmo que entre dois absolutos desconhecidos, é sempre a comunicação que se perfila no horizonte.
Contudo, são inúmeras as dificuldades e obstáculos que enfrenta a concretização de um processo que se assume como pilar indiscutível das relações humanas. E é nesse sentido que, percorrendo contudo outros caminhos, não deixa aqui de seguir-se o trilho para que aponta a tese luhmaniana de que a comunicação reclama ser tratada enquanto problema e não enquanto fenômeno tido por garantido e a roçar contornos de processo resultante de geração espontânea em que a proliferação de meios faz acreditar.

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