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Mesmo afetado por crises de diversos matizes, o Brasil tem realizado grandes esforços para arrancar num rápido crescimento econômico, tradicionalmente considerado como via de alcance do desenvolvimento. Os incentivos à diversificação da indústria, à modernização das técnicas produtivas no campo e ao crescimento do setor de serviços permitiram o posicionamento do Brasil, por um longo tempo, como uma das maiores economias do mundo e um dos mais atrativos e dinâmicos mercados entre os países emergentes.
Todo esse dinamismo não é suficiente, no entanto, para eliminar uma posição subalterna em relação ao mercado mais industrializado, obrigando o país a se posicionar como um fornecedor de matérias-primas e, com a evolução das relações, commodities. Ainda perduram no país sérias desigualdades sociais e consideráveis desequilíbrios regionais, uma vez que o crescimento econômico tem sido acompanhado por forte concentração de renda, e os principais polos socioeconômicos ainda se encontram muito concentrados espacialmente.
Além disso, o crescimento econômico tem resultado em fortes impactos socioambientais, causando significativos efeitos negativos aos ecossistemas naturais e às populações que neles vivem. Os chamados “projetos de desenvolvimento”, especialmente os de infraestrutura, são apresentados à população e aos grandes financiadores como a resposta aos problemas do país.
Concentram-se em construir malhas de estradas, hidrovias, ferrovias e barragens. Mas, a despeito das promessas de progresso, que justificam a execução de tais obras, são responsáveis por consideráveis mudanças em nossas paisagens naturais e por intensificar a vulnerabilidade de grupos sociais já considerados frágeis, sem diminuir as desigualdades.
O discurso comum que naturaliza o papel dos grandes projetos de infraestrutura no Brasil, desde a época dos planos de colonização, contém a alegação de que tais empreendimentos são essenciais e estratégicos. Essenciais para o desenvolvimento socioeconômico do país, estratégicos para o seu posicionamento no cenário mundial.
Daí, descortina-se a ótica de que o Brasil é um país de livre exploração de recursos naturais, e, assim, esses projetos foram e continuam sendo responsáveis pela organização e pelo controle do território, consequentemente mobilizando os recursos financeiros, sociais e a agenda administrativa do país.
“Saudade Do Cheiro Do Rio” traz para o primeiro plano a voz ribeirinha, que luta para aparecer por debaixo de camadas de desinformação e omissão de agentes públicos e do mercado. Assim, é necessário mostrar com riqueza de detalhes a insignificância da geração de energia elétrica na Bacia do Alto rio Paraguai desmontando, de saída, a falácia que envolve a narrativa para justificar a exploração do território. Em seguida, tentaremos mostrar a fecundidade da escuta das populações ribeirinhas.
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