Você se lembra do fim do ensino fundamental?
Consegue se lembrar da fisionomia dos seus colegas? Seria capaz de listar os nomes dos professores, da secretária, do diretor da escola? Consegue se lembrar de como era o som do sinal que tocava? E dos aromas da cantina? E da dor de sua primeira paixonite? E do pânico ao perceber que entrou no banheiro na mesma hora que o valentão da escola que vivia te perseguindo?
Talvez todas essas lembranças sejam perfeitamente nítidas. Ou talvez, com o tempo, esses anos escolares tenham se desvanecido em meio a tantas outras memórias da infância.
Seja como for, você está carregando tudo isso consigo.
Hoje já sabemos muito bem que essas experiências fazem parte da bagagem de nossa psique. Até mesmo aquilo de que você não é capaz de lembrar conscientemente está aí, em algum lugar, nadando em sua mente subliminar, prestes a emergir inesperadamente, para o bem ou para o mal.
Entretanto, tudo é muito mais profundo que isso, pois seu corpo se encontra em um estado constante de transformação e regeneração, e suas experiências – por mais irrelevantes que possam parecer, sejam com valentões, paixonites ou sanduíches – deixaram uma marca indelével.
E, o mais importante, no seu genoma.
Obviamente não foi assim que a maioria de nós aprendeu que funcionava a equação de três bilhões de letras que constituem nossa herança genética. Desde que as investigações feitas por Gregor Mendel em meados do século XIX[*] a respeito dos traços hereditários de ervilhas foram usadas para estabelecer os fundamentos de nossa compreensão da genética, temos aprendido que quem somos é algo bastante previsível, resultado apenas dos genes que herdamos de gerações anteriores. Um pouco da mamãe. Um pouco do papai. Bata tudo, e eis você.
É essa visão engessada da herança genética que os estudantes do ensino médio aprendem até hoje na escola, quando mapeiam gráficos genealógicos na tentativa de entender as características de seus colegas, como a cor dos olhos, o cabelo encaracolado, a capacidade de enrolar ou não a língua ou os pelos nos dedos. E a lição a ser aprendida, entregue como se tivesse sido escrita em pedra pelo próprio Mendel, é que não temos lá muita escolha no que diz respeito ao que recebemos ou ao que passamos, pois nosso legado genético já estava completamente fixado quando nossos pais nos conceberam.
Só que tudo isso está errado.
Herança: Como Os Genes Transformam Nossas Vidas E Como A Vida Transforma Nossos Genes
- Biologia, Medicina
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