A trajetória da MPB desde o surgimento da Bossa Nova até a explosão da Tropicália, mostrando os pontos comuns e as dissonâncias entre o estilo bossa-novista e os movimentos musicais que se desenvolveram nos anos 60. Ao acenar para um tema tão amplo — da bossa nova à tropicália —, adotei o critério de apontar determinadas linhas de criação musical que, ao longo dos anos 60, deram continuidade, de uma forma ou outra, à estética bossa-novista. Não me proponho, portanto, neste livro, a exaurir informações sobre quem foi quem na vida musical do país nesse período, tampouco a esgotar o rol de pessoas que contribuíram para as criações musicais. Isso explica algumas ausências, como a da Jovem Guarda, que merece um livro próprio. Tenho consciência das dificuldades deste recorte, que, ao tentar selecionar linhas estéticas, corre o sério risco de empobrecer a discussão e não perceber sutilezas reveladoras do nosso ecletismo musical. Um bom exemplo deste problema é a figura de Roberto Carlos, que concilia o título de “rei” da Jovem Guarda com o de intérprete identificado com o estilo de cantar inaugurado por João Gilberto. Em outras palavras, é próprio da cultura popular a prática dessa promiscuidade estilística, o que a torna, sem dúvida, vital. No caso brasileiro, como em outros, há uma longa tradição de os gêneros musicais trocarem informações entre si. Da Bossa Nova À Tropicália foi dividido em quatro partes. Na primeira, analiso o estilo musical da bossa nova e suas figuras paradigmáticas. Procuro mostrar as correspondências entre o intimismo introduzido na música popular pela estética bossa-novista e as concepções de modernidade que vigoravam no período (final dos anos 50 e início dos 60) nos planos da política e da cultura. Na segunda parte, concentro-me nos gêneros musicais que se desenvolveram nos anos 60 a partir da bossa nova, buscando entender as peculiaridades de determinadas tendências — sem o propósito, no entanto, de esgotar o rol de compositores e músicos que pontificaram no período. E, seguindo a orientação do capítulo anterior, estabeleço convergências entre os estilos musicais e as percepções do país em cada momento histórico — de “subdesenvolvido” a fértil e rico, sob diversas formas. O terceiro capítulo é dedicado à tropicália, por esta se configurar como um movimento mais amplo que procurou pensar o Brasil através da canção popular. Além de analisar a estética em si, desenvolvo também uma reflexão sobre o projeto cultural tropicalista que, ao conciliar o regional com o universal, coincide com o ideário modernista de Oswald de Andrade. No último capítulo acentuo o aparecimento da atitude crítica, comum tanto aos artistas eruditos quanto aos modernos, no seio da música popular no Brasil.
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