Em meio a um acervo arquitetônico modernista em grande parte depauperado, alterado, desvalorizado, morrido ou matado, para lembrar alguns dos termos discutidos pelo professor Luiz Amorim em seu “Obituário arquitetônico”, a 4ª edição do encontro DOCOMOMO Norte-Nordeste, realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no seu Campus central, em Natal, no período de 29 de maio a 02 de junho de 2012, reuniu profissionais de várias partes do Brasil em torno de problemáticas diversas envolvendo relações entre o modernismo, o projeto e o patrimônio arquitetônico em cidades que, por se pretenderem “sempre novas”, tornam aparentemente incompatível a conciliação entre o novo e o existente.
Algo sintomático dessas preocupações se revelou de modo especial no último dia de atividades do 4° DOCOMOMO, no trajeto compartilhado por meio do passeio informativo e reflexivo sobre o acervo arquitetônico modernista ainda [r]existente na capital potiguar. Para além do “registro da ausência” – a imprescindível e fundamental tarefa de documentar e discutir historiograficamente a produção material e cultural das cidades brasileiras, atravessadas indelevelmente pelos signos do moderno e dos modernismos e pela perda ou destruição constante e deliberada dos suportes físicos da memória e da história –, impõe-se cada vez mais a necessidade de discussão sobre as possibilidades e experiências de conservação e, por consequência, de intervenções projetuais contemporâneas no acervo modernista.
Assim, intitulado como Arquitetura Em Cidades “Sempre Novas”: Modernismo, Projeto E Patrimônio – mote que permanece para encimar esta coletânea de parte do material apresentado e discutido no evento –, o 4° DOCOMOMO Norte-Nordeste congregou um conjunto de trabalhos, mesas e conferências para pensar o processo de renovação arquitetônica e urbana de nossas cidades partindo da questão central de que o gosto pelo novo, pela novidade, torna rapidamente obsoleto aquilo que, quando surgiu, também era novo, moderno.
Nesse afã de renovação, o legado modernista inscrito em nossa paisagem urbana tem sido constantemente ameaçado. Objeto do descaso, do abandono e da transformação, às vezes descabida, por intervenções sem qualquer reflexão à luz das teorias e práticas do restauro e do patrimônio, é inegável a perda acelerada e sem critérios desse acervo – perda que se nota em suas várias vertentes, desde as “eruditas”, assinada por nomes consagrados ou pelo menos citados pela historiografia, quanto as “leigas” e suas múltiplas e inventivas variações, reinterpretações, estilemas.