A Invenção Da Cultura

Roy Wagner - A Invenção Da Cultura

Há ciências cujos "paradigmas", blocos de preceitos e precedentes teóricos que definem a ortodoxia daquilo que Thomas Kuhn chama de "ciência normal" mantêm uma imobilidade congelada até que seus sustentáculos são derretidos pelo calor e pela pressão das evidências acumuladas, verificando-se então uma "revolução tectônica". A antropologia não é uma delas.


Como disciplina, a antropologia tem sua história de desenvolvimento teórico, de ascendência e antagonismo com relação a certas orientações, uma história que sem dúvida manifesta certa lógica ou ordem.
Com toda a unanimidade de que goza, porém, esse fluxo de ideação pode muito bem ser descrito como pura dialética, um jogo de exposições (e refutações) por vozes disparatadas ou uma eclética soma de tudo e mais um pouco dentro dos manuais.
O que é notável nisso não é tanto a persistência de fósseis teóricos (uma persistência que é o recurso básico da tradição acadêmica), mas a incapacidade da antropologia para institucionalizar essa persistência, ou mesmo para institucionalizar qualquer tipo de consenso.
Se A invenção da cultura exibe uma tendência a defender suas opiniões em vez de arbitrá-las, isso reflete, pelo menos em parte, a condição de uma disciplina na qual um autor é obrigado a destilar sua própria tradição e seu próprio consenso; Além disso, essa tendência se relaciona com algumas das pressuposições expostas nos três primeiros capítulos e com a razão de ser do livro.
Uma preocupação fundamental do meu argumento é analisar a motivação humana em um nível radical- mais profundo que o dos clichês bastante em voga sobre os "interesses" de corporações, atores políticos, classes, o "homem calculista" e assim por diante.
Isso não significa que eu esteja beatifica e ingenuamente desavisado de que esses interesses existem, ou não tenha consciência da força prática e ideológica do "interesse" no mundo moderno. Significa que eu gostaria de considerar tais interesses como um subconjunto, ou fenômeno de superfície, de questões mais fundamentais.
Desse modo, seria um tanto ingênuo esperar que um estudo da constituição cultural dos fenômenos argumentasse a favor da "determinação" do processo, ou de partes significativas dele, por algum contexto fenomênico específico e privilegiado - especialmente quando o estudo argumenta que tais contextos assumem seus significados em grande medida uns a partir dos outros.

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Roy Wagner – A Invenção Da Cultura

Há ciências cujos “paradigmas”, blocos de preceitos e precedentes teóricos que definem a ortodoxia daquilo que Thomas Kuhn chama de “ciência normal” mantêm uma imobilidade congelada até que seus sustentáculos são derretidos pelo calor e pela pressão das evidências acumuladas, verificando-se então uma “revolução tectônica”. A antropologia não é uma delas.
Como disciplina, a antropologia tem sua história de desenvolvimento teórico, de ascendência e antagonismo com relação a certas orientações, uma história que sem dúvida manifesta certa lógica ou ordem.
Com toda a unanimidade de que goza, porém, esse fluxo de ideação pode muito bem ser descrito como pura dialética, um jogo de exposições (e refutações) por vozes disparatadas ou uma eclética soma de tudo e mais um pouco dentro dos manuais.
O que é notável nisso não é tanto a persistência de fósseis teóricos (uma persistência que é o recurso básico da tradição acadêmica), mas a incapacidade da antropologia para institucionalizar essa persistência, ou mesmo para institucionalizar qualquer tipo de consenso.
Se A invenção da cultura exibe uma tendência a defender suas opiniões em vez de arbitrá-las, isso reflete, pelo menos em parte, a condição de uma disciplina na qual um autor é obrigado a destilar sua própria tradição e seu próprio consenso; Além disso, essa tendência se relaciona com algumas das pressuposições expostas nos três primeiros capítulos e com a razão de ser do livro.
Uma preocupação fundamental do meu argumento é analisar a motivação humana em um nível radical- mais profundo que o dos clichês bastante em voga sobre os “interesses” de corporações, atores políticos, classes, o “homem calculista” e assim por diante.
Isso não significa que eu esteja beatifica e ingenuamente desavisado de que esses interesses existem, ou não tenha consciência da força prática e ideológica do “interesse” no mundo moderno. Significa que eu gostaria de considerar tais interesses como um subconjunto, ou fenômeno de superfície, de questões mais fundamentais.
Desse modo, seria um tanto ingênuo esperar que um estudo da constituição cultural dos fenômenos argumentasse a favor da “determinação” do processo, ou de partes significativas dele, por algum contexto fenomênico específico e privilegiado – especialmente quando o estudo argumenta que tais contextos assumem seus significados em grande medida uns a partir dos outros.

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