
Esse livro é fruto do encontro entre vários agentes e agências que vêm transformando num fato o que, até a algumas décadas, era um evento localizado, ou seja, a presença indígena nas universidades brasileiras. Data de 1999 o primeiro encontro, no território da Universidade Federal de São Carlos, entre indígenas, docentes e administração.
Eram integrantes do povo Kalapalo que pediam ajuda para a Profa. Dra. Marina Denise Cardoso, antropóloga que dedicou sua vida acadêmica ao estudo da saúde indígena, para, entre outras demandas, serem alfabetizados em português, uma vez que as conquistas registradas na Constituição Cidadã de 1998 trariam a eles desafios de contato e negociação com não-indígenas.
Naquele momento, ambas as organizadoras desse livro envolveram-se nos diálogos sobre a alfabetização em português. De tais encontros, nasceu a circulação de kalapalos na UFSCar, tanto para a venda de seu artesanato, quanto pela fixação de algumas famílias na cidade de São Carlos. Mas, o território da universidade continuava a ser apenas um território de visita para aquele povo.
Ao longo de uma década, mobilizadas em torno do direito à educação, lideranças tradicionais indígenas negociaram em diferentes setores sociais o ingresso em universidades como parte deste direito. Tradicionalmente voltadas para os cursos de licenciatura multicultural, algumas universidades brasileiras passaram a receber diferentes povos, formando-se, assim, também lideranças indígenas acadêmicas.
A UFSCar entrou nessa história em 2008, com a concretização do trabalho de uma comissão multicêntrica liderada pela Profa. Drª Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva. A reserva de vaga específica, com seleção de ingresso também específica marcaria o começo da história da presença indígena no território da UFSCar, agora não mais como visitantes, mas como estudantes dos diferentes cursos ofertados por ela.
Novamente as organizadoras do livro participariam da história do encontro com povos indígenas na UFSCar, mas, agora, de maneira intensa, primeiro ocupando lugares-chave na administração da política de ações afirmativas da universidade, e depois ocupando lugar de parceiras dos estudantes dos diferentes povos indígenas, principalmente a partir de diálogos com o Centro de Culturas Indígenas, organizado pelos estudantes dos diferentes povos que passaram a compor a comunidade da UFSCar.
