Escrever sobre o carnaval e sua conexão com a tradição filosófica é um desafio para quem deseja pensar nosso universo cultural. De início, um dos inúmeros vieses de articulação entre essas duas manifestações culturais, o carnaval e a filosofia, é o reconhecimento delas como exercícios de imaginação.
Por isso, Rorty, talvez, incluísse o carnaval, como o fez com a filosofia, entre as expressões ironistas e romanticamente autocriativas de uma cultura, assim como são a arte, a música, a literatura etc. Essa autocriação vai junto à recriação contingente de vocabulários como um modo eficaz de compreensão da identidade humana, mais eficaz do que o fundacionalismo científico ou moral, pois: “Tudo, desde o som de uma palavra, passando pela cor de uma folha, até a sensação de um pedaço de pele, pode servir, como nos mostrou Freud, para dramatizar e cristalizar o sentido de identidade pessoal de um ser
humano”.
Essa questão tem uma dimensão filosófica, mas numa filosofia entendida, de acordo com Rorty, como uma discussão político-cultural e não como uma procura de fundamentação teórica da cultura.
Fundamentação que teria a pretensão metafísica de revelar a essência cultural de um povo a partir de uma de suas festas, apesar de talvez ser a mais importante. Nessa linha de raciocínio, nossa proposta não convida para uma “fuga” do cotidiano pelo ritual e pela festa, ao contrário, ressoa, nos exemplos anteriores de carnavalização, uma inserção cultural pós-metafísica que, de diferentes maneiras, ativou as potencialidades políticas e culturais de diferentes grupos sociais.
Discutir as relações entre o carnaval e a filosofia significa tornar viável a vocação da filosofia para refletir sobre o mundo que nos cerca. Como o mundo que cerca os brasileiros mais de perto é mesmo o Brasil, o carnaval torna-se uma necessidade para os filósofos daqui.
O Carnaval E A Filosofia
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