Empirismo – Esta obra traz uma introdução à tradição empirista em filosofia. O livro examina as mais importantes questões filosóficas sobre o tema, mantendo distância suficiente das complexidades acadêmicas acerca de Locke, Berkeley e Hume para permitir aos leitores uma visão geral clara do empirismo, sem se perder em detalhes de disputas exegéticas sobre filósofos específicos.
Qualquer lista dos grandes empiristas incluiria John Locke, George Berkeley e David Hume, mas muitos argumentam que não há acordo entre eles quanto a uma doutrina que possamos chamar de empirismo. Mas isso é prematuro. Há uma tese básica e importante que eles partilham.
É o que afirma Locke claramente numa nota sobre provas da existência de Deus. Diz ele:
A existência real só pode ser provada pela existência real; e, portanto, a existência real de um Deus só pode ser provada pela existência real de outras coisas. A existência real de outras coisas independentes de nós só nos pode ser evidenciada pelos nossos sentidos; mas nossa própria existência nos é conhecida por uma certeza ainda maior do que a que nos dão os nossos sentidos sobre a existência de outras coisas e essa é a percepção interior, a autoconsciência ou intuição; do que se pode portanto tirar, por uma sequência de ideias, a prova mais segura e incontestável de um Deus.
Trata-se de um comentário sobre René Descartes (1596-1650), que sustenta que a existência de Deus pode ser provada a partir de nossa concepção dele. Por definição, trata-se de um ser perfeito e, de acordo com Descartes, a ideia de perfeição só poderia vir de um ser na verdade perfeito.
Locke alega que não podemos provar a existência de nada sem apelar para a experiência. A existência real só pode ser provada pela existência real e nossa única evidência disso é a experiência, ou seja, a percepção exterior das coisas fora de nós e a percepção interior de nossa própria existência e do funcionamento de nossa mente.
Essa é uma clara expressão do empirismo: todo conhecimento da existência real deve basear-se nos sentidos ou na autoconsciência, isto é, na experiência. O próprio argumento de Locke sobre Deus satisfaz essa condição. Ele sustenta que somos conscientes de que existimos e somos seres pensantes e, uma vez que a matéria não pode explicar o pensamento, conclui que um ser pensante criou o mundo material.
Este é um argumento empirista, pois repousa sobre premissas (I) acerca de existentes reais, enquanto opostos a conceitos, e (II) certificadas pela experiência. Por “existência real” Locke entende a existência independente do pensamento; e por “existência ideal”, a existência na mente. O raciocínio que vai da existência ideal para a real nunca é válido; para mostrar que algo é real, temos que experimentá-lo ou inferi-lo de algo que experimentamos.