Qualquer lista dos grandes empiristas incluiria John Locke (1632-1704), George Berkeley (1685-1753) e David Hume (1711-1776), mas muitos argumentam que não há acordo entre eles quanto a uma doutrina que possamos chamar de empirismo. Mas isso é prematuro. Há uma tese básica e importante que eles partilham.
É o que afirma Locke claramente numa nota sobre provas da existência de Deus. Diz ele:
A existência real só pode ser provada pela existência real; e, portanto, a existência real de um Deus só pode ser provada pela existência real de outras coisas. A existência real de outras coisas independentes de nós só nos pode ser evidenciada pelos nossos sentidos; mas nossa própria existência nos é conhecida por uma certeza ainda maior do que a que nos dão os nossos sentidos sobre a existência de outras coisas e essa é a percepção interior, a autoconsciência ou intuição; do que se pode portanto tirar, por uma sequência de ideias, a prova mais segura e incontestável de um Deus.
Trata-se de um comentário sobre René Descartes (1596-1650), que sustenta que a existência de Deus pode ser provada a partir de nossa concepção dele. Por definição, trata-se de um ser perfeito e, de acordo com Descartes, a ideia de perfeição só poderia vir de um ser na verdade perfeito.
Locke alega que não podemos provar a existência de nada sem apelar para a experiência. A existência real só pode ser provada pela existência real e nossa única evidência disso é a experiência, ou seja, a percepção exterior das coisas fora de nós e a percepção interior de nossa própria existência e do funcionamento de nossa mente.
Essa é uma clara expressão do empirismo: todo conhecimento da existência real deve basear-se nos sentidos ou na autoconsciência, isto é, na experiência. O próprio argumento de Locke sobre Deus satisfaz essa condição. Ele sustenta que somos conscientes de que existimos e somos seres pensantes e, uma vez que a matéria não pode explicar o pensamento, conclui que um ser pensante criou o mundo material.
Este é um argumento empirista, pois repousa sobre premissas (I) acerca de existentes reais, enquanto opostos a conceitos, e (II) certificadas pela experiência. Por “existência real” Locke entende a existência independente do pensamento; e por “existência ideal”, a existência na mente. O raciocínio que vai da existência ideal para a real nunca é válido; para mostrar que algo é real, temos que experimentá-lo ou inferi-lo de algo que experimentamos.
Empirismo
- Ciências, Filosofia
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