Ring Lardner (1885-1933) foi um redator de esportes que se popularizou com contos cômicos, a maioria descrevendo o mundo dos esportes, mas sempre focando na sociedade americana da época com um olhar crítico e mordaz. Sua linguagem era extremamente coloquial, uma característica moderna para a época, mas que conquistou os leitores, se aproximando deles e dos sujeitos retratados.
Além de alguns romances, o mais famoso sendo You know me Al (1916), um romance epistolar, e outros tipos de escritura diferenciada, como um livro de baladas (Bib Ballads, 1915), Lardner obteve maior sucesso com os contos produzidos com os mais diversos tipos de registro da língua, fazendo um retrato bem-humorado, porém, crucial de inúmeros personagens da sociedade americana.
Ring Lardner permanecia inédito no Brasil, até o momento. Com a tradução do conto Corte de cabelo [“Haircut”], a Balão Editorial oferece ao leitor um autor que modernizou a visão de conto e possibilidade de registros coloquiais na literatura americana. Apostamos que o conto irá agradar com seu humor negro, além de permitir a reflexão pela crítica à sociedade — crítica essa que continua atual e pode ser transplantada em muitos aspectos para a sociedade brasileira.
Lardner foi agraciado pela crítica da época, não só por profissionais do ramo, mas também por outros autores de renome, inclusive Virginia Woolf, que elogiou o tratamento moderno que Lardner deu aos formatos conto, epístolas e baladas, além de seu particular registro da língua oral e narração híbrida, que particulariza o discurso indireto livre e o fluxo de pensamento.
Conheça o estilo peculiar e o registro coloquial e cômico de Ring Lardner.
Um barbeiro de Carterville vem me ajudar de sábado, mas nos outros dias eu me viro bem sozinho. Dá pra você ver que aqui não é Nova York. E a maioria dos caras trabalha o dia todo e não tem tempo livre pra vir aqui se embonecar.
Você é novo por aqui, num é? Bem que pensei nunca ter te visto por essas bandas. Espero que goste pra ficar. Como sempre digo: aqui não é Nova York ou Chicago, mas a gente sabe se divertir a valer. Não tá tão bom desde que o Jim Kendall morreu. Quando tava vivo, ele e o Hod Meyers faziam um pandemônio na cidade. Aposto que aqui tinha mais diversão do que qualquer outra cidade do mesmo tamanho na América todinha.