
O ponto de partida deste livro é o caso Eichmann, tal como analisado por Hannah Arendt em Eichmann em Jerusalém (1963), obra que resulta de sua participação no julgamento do ex-tenente-coronel da SS responsável pela logística de transporte dos judeus para os campos de concentração e extermínio durante o regime nazista na Alemanha.
Conforme mostra o autor, o descompasso entre a monstruosidade dos crimes que Eichmann ajudou a perpetrar e a sua figura perante o tribunal – que não pareceu monstruosa ou maléfica a Arendt, mas completamente normal e até medíocre –, levou-a a cunhar a expressão banalidade do mal.
Com tal noção, Arendt designa um novo tipo de mal, o qual não é causado por motivos torpes, instintos corrompidos ou por uma vontade maligna, e sim pela obediência ao dever de ofício ligada a uma recusa do agente em pensar naquilo que faz.
Com o objetivo de compreender quais são as condições que propiciam essa incapacidade ou ausência de pensar (thoughtlessness), o autor examina, dentro do arcabouço teórico de Arendt, como não só os regimes totalitários, mas também a própria Era Moderna, produzem a experiência da solidão (loneliness) no interior da sociedade de massa. Tal experiência prejudica a instauração de um mundo comum no qual possa se afirmar a pluralidade humana, condição para o exercício da capacidade de agir, sentir e também de pensar.
Em Eichmann em Jerusalém, ela observa que “apesar de todos os esforços da promotoria, todo mundo percebia que esse homem não era um ‘monstro’, mas era difícil não desconfiar que fosse um palhaço”. No posfácio adicionado à segunda edição de Eichmann em Jerusalém, de 1964, quando já tem em consideração a ampla repercussão negativa do livro, Arendt dedica-se a desenvolver com mais vagar e precisão, dentre outros temas, sua compreensão da expressão “banalidade do mal” e observa o seguinte: Eichmann “não era burro. Foi pura irreflexão (thoughtlessness) […] que o predispôs a se tornar um dos grandes criminosos desta época”.
Por fim, em uma entrevista a Joachim Fest, também de 1964, reitera que Eichmann era muito inteligente, mas de uma “estupidez ultrajante”, que se traduziria na “incapacidade de pensar, ou seja, de pensar do ponto de vista de outra pessoa”.
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