
Esta coletânea tem sua origem em 2010, quando se delineavam dois projetos de pesquisa, a saber: Cultura, Patrimônio E Segurança Alimentar Entre Famílias Rurais: Etnografias De Casos Significativos e Saberes E Sabores Da Colônia: Modos De Vida E Patrimônio Alimentar Entre Pomeranos No Brasil Meridional.
Conformando a agenda de pesquisa Saberes E Sabores Da Colônia, tais iniciativas seriam conduzidas pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Alimentação e Cultura (GEPAC), em associação com o Laboratório de Estudos Agrários e Ambientais (LEAA) e com o Laboratório de Ensino, Pesquisa e Produção em Antropologia da Imagem e do Som (LEPPAIS), ambos da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
Na concepção do trabalho, tomamos por contexto, por um lado, a identificação de uma ansiedade urbana contemporânea em relação à alimentação e, por outro, a expressão, nas classificações da alimentação operadas por consumidores urbanos, de um rural valorado positivamente, idealizado, que, ao demandar alimentos – mas também paisagens, costumes, festas, história, turismo – interfere na conformação do rural vivenciado pelos que nele habitam.
Isso se realiza em um quadro em que, como característica da globalização, pode-se notar uma crescente industrialização da alimentação e homogeneização de produtos, práticas de consumo e gostos alimentares, mas também, na contramão desse processo, a valorização do tradicional, artesanal, local – e, vale mencionar, como analisado em Menasche, no uso ideológico dessa diversidade, o ensejo em que comida é constituída enquanto patrimônio.
A alimentação é, assim, aqui percebida como expressão de um imaginário sobre o rural, constituído por moradores de centros urbanos em suas práticas de consumo, mas também reveladora de diluições e redefinições de fronteiras entre campo e cidade – tal como manifestam as ambiguidades presentes nas práticas produtivas e de consumo de variados segmentos de agricultores ou ainda na circulação de alimentos da colônia, que chegam por circuitos de reciprocidade aos parentes que vivem na cidade –, assim como sinal diacrítico de identidades (étnicas, regionais) que congregam o rural como atributo.
É assim que a observação de práticas alimentares é tomada como abordagem para o estudo do rural.
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