Quentin Skinner – Liberdade Antes Do Liberalismo
Este ensaio de um dos mais destacados historiadores do mundo inicia-se procurando recuperar e justificar a teoria neo-romana dos cidadãos livres e dos Estados livres como ela se desenvolveu no início da Inglaterra moderna, e termina com uma poderosa defesa da natureza, propósitos e metas da história intelectual e da história das ideias.
Parte da ciência política se apropriou de Nicolau Maquiavel como uma espécie de fundador, um teórico da racionalidade do Estado moderno secularizado. O problema é que, nos revela Skinner, o conceito de Estado só foi criado no século XVII.
Maquiavel dizia outra coisa quando usava o termo estado, com e minúsculo: apenas situação. Isso pode soar como um preciosismo. Mas o quanto nossa reflexão sobre política e sua história se enriquece quando notamos que, apesar de toda naturalidade aparente, a relação entre elas e o Estado é contingente. E quanto a obra de Maquiavel pode ser instigante, exatamente por não falar a nossa língua.
Em Liberdade Antes Do Liberalismo, Skinner retomou uma tradição esquecida, mas que teve vida intensa até o século XVII. O autor a chama de tradição neo-romana (a qual, aliás, incluiu a obra de Maquiavel – que estava longe de ser um defensor da razão de Estado, ou do cinismo dos príncipes).
Segundo esta tradição, uma república só pode ser considerada livre se os seus cidadãos tiverem a prerrogativa de agir e discursar, interferir no destino comum, sem que paire sobre eles qualquer tipo de ameaça ou sanção.
Ou seja, uma “liberdade” que pudesse ser suspensa pela república simplesmente não mereceria esse título. Ainda segundo Skinner, apesar de praticamente esquecida (no sentido de não ter parte ativa na vida política) essa tradição deixou ecos, por exemplo, na independência americana e na interpretação que Marx fez do capitalismo como alienação.
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