
As reflexões reunidas neste volume tiveram versões originais no IV Simpósio Internacional de Ciências Sociais, realizado em novembro de 2015 na Universidade Federal de Goiás.
A motivação e ao mesmo tempo o unificador temático do evento centrou-se na conexão das trajetórias de dois emblemas da vida moderna, a democracia e ciências sociais.
Coincidiu com os preparativos do Simpósio, o incremento das mobilizações na sociedade brasileira que viriam a testar a qualidade da ordem democrática que sucedeu ao regime autoritário-militar de 1964.
O auge dos embates e polarizações, naquele momento, já indicava o provável impedimento da presidente Dilma Rousseff, acompanhado de apreensões quanto à retomada de hegemonias conservadoras no país.
Em meio às vias institucionais do processo, revelava-se que substantivos elementos de corte antipopular, robustos em nossa tradição republicana, eram reacendidos na opinião pública e no jogo partidário-parlamentar
Parecia também visível nos intervalos dos ritos das votações entre a Câmara e o Senado que o modelo de política, acoplado a profundas desigualdades e a uma ordem social de herança patrimonial, patriarcal e principalmente escravocrata, estaria a receber reforços certeiros para se garantir por mais alguns bons pares de décadas.
À medida que os acontecimentos avançavam, consumavam-se evidências de que o breve ciclo de relativização do modelo tradicional, experimentado com governos de origem popular mais ostensiva, ficou longe de provocar a sua inversão ou rompimento.
Ao se observar a composição do volume, através do sumário que lhe dá vértebra e lhe enuncia os conteúdos, percebe-se de imediato uma concepção de democracia cujos eixos e componentes buscam aspectos que transbordam da noção meramente institucional da política.
Há neles, com uma única exceção, temas e problemas geralmente esquecidos ou desprezados nas formatações vindas da vertente liberal-representativa da democracia.
Em segundo lugar, nota-se também que as autorias dos textos, ao desenvolverem seus temas e problemas, não se prendem a reduzi-los ao critério do distributivismo econômico inscrito nas dinâmicas das lutas de classes, que circunscrevem a instância política à função de meramente consagrar e reafirmar desigualdades e injustiças estruturais.
A mais dessas duas posturas, um terceiro aspecto a registrar é o forte referente empírico no tratamento dos objetos, o que enriquece sobremaneira os seus enfoques.
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