Trabalhador. Negro. Nordestino. Migrante. Caboclo. Ribeirinho.
Seringueiro, Sem-terra. Santo. Xamã. Líder. Médium. Espírita. Pajé.
Curandeiro. Poeta. Compositor. Mestre. Tudo isto foi Raimundo Irineu Serra. Um homem-lenda, do Nordeste à Amazônia; das festas populares ao canto mais sagrado da floresta; da música e da dança à fé mais sincrética, mais universalista. Ao ritmo do maracá, santos, anjos, encantados, caboclos, orixás, entidades, divindades, todos irmanados na festa mágica que faz com que o Astral caiba em uma mente, em um pensamento. Nesse firmamento de infinitas possibilidades, um Mestre.
Naquele tempo da afirmação quase impossível do Estado Nacional brasileiro, Mestre Irineu foi síntese de possibilidades e resultado das contradições de um Brasil diverso e opressor, generoso e excludente, tudo ao mesmo tempo, nos vários tempos, nos espaços todos. Experiência viva de uma superação. Negou que fosse destino a homens com sua história, origem e prática a impossibilidade de encontrarem a plenitude do humano.
Nesse sentido, Irineu é alegoria do Brasil. É vitalidade que supera violência, exclusão, analfabetismo e fome. É a nossa diversidade generosamente alimentando almas brasileiras e estrangeiras. Um Mestre que brota na Floresta, feito cipó e folha, água e fogo. E que a tudo alumia.
Neto de escravos que, no início do século XX, migrou do Maranhão para o Acre, onde se estabeleceu e desempenhou vários ofícios: da extração de borracha a policial. Nos arredores de Rio Branco passou a desenvolver atividades de cunho espiritualista e de medicina popular, utilizando-se da ayahuasca, bebida de fortes características psicoativas. Em 1930 funda um centro religioso: o Santo Daime ou Daime, como é mais conhecido. A comunidade rural que estabeleceu acolheu inúmeros imigrantes e seringueiros expulsos da floresta devido ao colapso da economia da borracha. Mestre Irineu e sua doutrina foram sujeitos a inúmeras perseguições e preconceitos suscitados pela predominância de afrodescendentes entre seus seguidores e pelos temores que as elites de então sentiam em relação a movimentos culturais e religiosos de origem afro-indígena como aquele que liderava.
Como estratégia de defesa para si e sua comunidade, Mestre Irineu desenvolveu fortes laços com alguns políticos influentes de sua época, incluindo governadores e autoridades do exército. Hoje se considera de grande importância a sua participação na colonização do então Território que mais tarde viria a ser Estado. O movimento religioso que fundou assume características emblemáticas da identidade acreana, reminiscentes daquelas
desempenhadas pelo candomblé na Bahia.
O texto do livro aqui apresentado faz uma sistematização dos dados já conhecidos sobre a história do Mestre Irineu e do Daime, além de trazer uma preciosa coleção de depoimentos dos primeiros participantes desse movimento religioso, muitos deles com já com idade avançada, ou já falecidos.
A obra também enfatiza a influência da cultura afro-brasileira no desenvolvimento da doutrina pregada pelo Mestre Irineu.
Eu Venho De Longe: Mestre Irineu E Seus Companheiros
- Ciências Sociais, Religião
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