
A ideia do presente livro surgiu de circunstâncias relativamente fortuitas. Estávamos redigindo a 2ª Parte de nossa História da Filosofia do Brasil, relativa à primeira metade do século XIX, e Nísia Floresta fazia parte da lista de pensadores a serem considerados no período.
Acontece que as informações a respeito dela são muito reduzidas na bibliografia disponível sobre a história da filosofia brasileira. De um modo geral, os pesquisadores que trabalharam essa questão não fazem menção a ela. Isso é surpreendente, pois estamos diante de uma mulher inteligente, culta e bastante independente em suas ações.
Ela foi capaz de romper seu casamento com apenas quatorze anos de idade; de unir-se posteriormente a um estudante de direito; de adquirir, talvez em parte como autodidata, uma cultura humanística muito acima da média não só das mulheres, mas também dos homens de sua época; de publicar livros e artigos com conteúdo filosófico na imprensa nacional, tratando de temas candentes no país, como a educação feminina, a escravidão, a situação dos índios, a repressão governamental a levantes liberais e a defesa da imagem do Brasil em confronto com a civilização europeia; de fundar e dirigir um colégio para meninas, utilizando uma pedagogia reformista em relação à educação feminina; de viajar pela Europa por muitos anos, fazendo análises eruditas e por vezes refinadas das regiões que visitou; por fim, de fazer amizade com Augusto Comte, que a tinha em grande consideração e chegou a pensar na possibilidade de que ela liderasse um salão positivista em Paris.
Apesar de possuir tantos atributos interessantes, ela permaneceu ignorada entre nós até mais recentemente.
A desconcertante invisibilidade de Nísia Floresta talvez se explique pelo fato de que a filosofia brasileira tenha sido estudada inicialmente a partir de uma visão excessivamente masculina da evolução de nosso pensamento, previsivelmente cega para contribuições femininas, por mais relevantes que fossem.
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