Ramírez é um cidadão que, agredido por outros indivíduos que não conhecia, sangra até morrer. O mistério sobre a motivação da agressão desperta a obsessão de um leitor do noticiário policial. Afinal, por que Ramírez foi morto? O inusitado também ronda outras breves histórias: a de um homem que desperta seus instintos antropofágicos e se torna uma ameaça para sua própria família. A de bruxas que, provocadas, transformam amantes em árvores e adúlteros em animais. A de uma mulher que nasce literalmente em dobro. A de um homem que busca o amor pelas ruas da cidade.
Um homem morto a pontapés é um compêndio de questões recorrentes na obra de Pablo Palacio, autor que terminou os seus dias num hospital psiquiátrico, falecendo aos 43 anos. Publicado originalmente em 1927, quando tinha apenas 21 anos, os contos reunidos no livro, além da novela, Débora, flertam com o absurdo, o grotesco e o irreverente, num período em que predominava uma abordagem realista da literatura, para falar da esquizofrenia da sociedade equatoriana à época.
Considerado um dos mais importantes escritores do país e expoente da vanguarda da literatura latino-americana, a obra de Palacio é experimental e inovadora. Em seus textos, o autor propõe uma série de jogos linguísticos e textuais que rompem com a literatura convencional da época. Ele também aborda temas intocados pela ficção produzida à época no continente, como canibalismo, violência urbana, homossexualidade, bruxaria. Um homem morto a pontapés faz parte da coleção Otra Língua, organizada por Joca Terron, uma seleção de referência do que há de mais inventivo e original em língua espanhola reunido em um único selo.
Palacio tem uma narrativa liberta de convenções, flertando com o surrealismo, caso, por exemplo, do conto “A dupla e única mulher”, na qual a personagem principal tem duas cabeças, quatro braços, quatro seios, quatro pernas. O conto é a visão de uma delas, a mulher dominante, que tem que conviver com a outra/si mesma. Seus personagens são monstruosos, marginais, estranhos.
O rompimento também é formal. Suas histórias não têm compromisso com o tempo ou, mesmo, com o texto. O abracadabra da bruxa é a palavra a ser desestruturada e reestrutura em uma pirâmide que quebra o alinhamento visual da leitura. Também não há comprometimento com aquele que conta a história. O narrador pode bem estar em primeira ou terceira pessoa. Em Débora, o personagem Tenente serve de suporte às digressões do próprio narrador, que, ao mesmo tempo, integra o relato do Tenente em primeira pessoa e seu perambular pelas ruas de Quito em busca de aventuras amorosas.
Um Homem Morto A Pontapés
- Literatura Estrangeira
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