Este não é apenas um laborioso recenseamento da gestão de Oswaldo De Souza vivendo o SERVIÇO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL nas terras do Rio Grande do Norte. É depoimento de uma campanha sem pressa e sem trégua no prosseguimento da preferência profissional e congênita, sintetizando a própria existência pessoal. Ao lado do documentário de valor inapreciável que o volume compendia, estão visíveis as virtudes humanas de uma fidelidade excepcional às tarefas da permanente simpatia cultural.
Menino, rapaz, homem feito, Oswaldo De Souza amou os motivos que ainda o comovem. Música, aquela que o povo canta, casa-grande da dispersa aristocracia rural, casarões agonizando em silêncio, sobrados vazios, igrejas velhas de culto persistente e discreto, cúpulas arredondadas de mesquitas, torres pastoreando rebanhos ausentes, santos de madeira, severos e milagreiros, as cimalhas curvas, com os ornatos volteados e conchas rituais, capelas esquecidas, altares deformados pelas reformas fidedignas, como dizia Capistrano de Abreu, a sedução das ruínas eloquentes, as residências povoadas de sombras, os cruzeiros mortos, o encanto da visão meditativa e tranquila nas tardes que anoitecem devagar no ritmo do Tempo.
Na música popular, todas as legitimidades em que a imaginação registradora não colaborará, diluindo em banalidades contemporâneas as primitivas soluções melódicas. Ponhamos de reforço uma inteligência água alerta, sossegada e profunda como as águas quietas sem limites previsíveis.
Natalense, tropical esteta pelo nascimento, culto pela conquista leitora incessante. Pesquisador por temperamento, selecionador por instinto, fatigando-se quando descalço e repousando quando trabalha, é uma abelha filha de pirilampo. Iluminando-se nas horas noturnas para não abandonar o laboratório.
Nenhuma exibição pirotécnica, fogo de vista, foguetão. Bondade espontânea e generosa. Dignidade pessoal, consciência do dever. Imposição do Esforço no exercício meticuloso das tarefas obrigacionais como num ritmo litúrgico. Na sua vida não há os pecados da omissão, desleixo, desatenção, indiferença, tédio na execução jubilosa do programa deliberado. Um trabalhador que se fatiga na inércia.
Oswaldo De Souza expõe o relatório de seus serviços, fundamenta-os na História, clareando-os a lógica expositiva nas indagações e do Norte desfila em seus documentos arquiteturais que os anos anoitecem e merecem a madrugada da restauração.
Não os enumero, nem cito para que o louvor coincida nos encontros súbitos e poderosos, marcando as épocas, na lenta romaria sentimental, acompanhando Oswaldo De Souza na incomparável peregrinação em serviço da História do Brasil na coordenação geográfica do Rio Grande do Norte.