Um tratado político-teológico é fundamentalmente um tratado de filosofia social e de metafísica, na medida em que trata da teologia em sua relação prática, por um lado, com uma teoria política e social, e por outro lado, com a própria questão metafísica da teologia filosófica enquanto teorização do ser absolutamente necessário, causa sui ou substância infinita, sem necessariamente pressupor uma concepção teísta de divindade.
Com efeito, as celebradas preleções (Gifford Lectures, 1936) de Werner Jaeger sobre a teologia dos gregos antigos mostraram precisamente isso: que na concepção originária de uma teologia filosófica não se pressupunha nenhuma distinção entre o natural e o sobrenatural, mas na verdade a theologia naturalis dos antigos preparou o terreno para a theologia supernaturalis dos cristãos.
Segundo Jaeger, Sto. Agostinho teria se apropriado da taxonomia oferecida por Varro, que distinguia três tipos de teologia (genera theologiae), a saber: teologia mítica, teologia política e teologia natural. Enquanto a primeira tratava dos deuses e seus mitos, seguindo os relatos, poemas, teodiceias e cosmogonias dos poetas, a terceira se mostrava uma teoria da natureza do divino e a única digna de ser considerada, segundo Sto. Agostinho, objeto de estudos da verdadeira religião (de vera religione).
Interessantemente, a theologia politica se mostrava em declínio, dado o contexto de decadência do Império Romano e de sua religião estatal: o Bispo de Hipona redige, então, o seu magnífico tratado De Civitate Dei (A Cidade de Deus) após o saque de Roma pelos visigodos no ano 410 de nossa era, inaugurando o gênero apologético da teologia política através de uma filosofia da história numa perspectiva cristã.
Assinalo, en passant, que a formação de uma theologia christiana se deu não apenas pela relação e interação tão polêmica quanto apologética (no sentido etimológico de ambos termos, polemos e apologia) do cristianismo primitivo com as principais correntes e tradições filosóficas grecoromanas (esp. neoplatonismo), mas ainda pela não menos complexa e polêmica relação com as principais correntes do judaísmo, sobretudo do chamado Segundo Templo, em alusão ao período pós-exílico e diaspórico (que se estende desde a construção do novo templo em Jerusalém, no sexto século antes da nossa era, até o ano 70, quando foi destruído pelo exército romano), com a consolidação da Bíblia Hebraica (a Septuaginta remonta ao terceiro século antes da nossa era) e o florescimento, até os três séculos seguintes, da literatura rabínica (em particular, do Talmud), dos textos apocalípticos e do messianismo político.
Tractatus Politico Theologicus
- Ciências Sociais, Filosofia, Religião
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