“Agora suponhamos por exemplo que entramos numa repartição pública – não na Rússia mas em qualquer país distante – e que nessa repartição há um chefe. Vejamos como ele se comporta no meio dos seus subordinados. Quando o ouvimos dar ordens, quase ficamos mudos de medo. O seu rosto respira nobreza, orgulho e sabe Deus o que mais! Um Prometeu, um verdadeiro Prometeu! Que ar majestoso! Que andar imponente! Parece uma águia! Mas mal sai dali, com a papelada debaixo do braço, e entra no gabinete do director, a águia transforma-se em perdiz…”.
O autor destas linhas, mestre do humor – daquele que nos faz dar sonoras gargalhadas – é Nicolau Gogol, na sua mais conhecida obra, o romance Almas Mortas. Olhámos para este romance como se olha para outra qualquer fonte histórica, sem medos e preconceitos, e perguntámos a Almas Mortas o que nos tem ele a contar da realidade russa do século XIX.
Gogol é um escritor implacável com os seus inimigos. Em Almas Mortas a arte está ao serviço da denúncia, neste caso da corrupção endémica na Rússia oitocentista, da miséria a que estavam votados os camponeses, ainda em regime de servidão, e da burocracia voraz. A burocracia, aliás, persegue Gogol pela sua obra. Num dos seus romances mais cómicos, O Nariz, Gogol retrata a figura de um funcionário que perde o nariz e o vê incarnado na figura do superior hierárquico – um delicioso pesadelo!
Para a compreensão da história russa. Gogol cria um funcionário corrupto, Chichikov, que vai comprar almas mortas (servos) que ainda figuravam nos censos para assim conseguir cedência de terras pelo governo russo – as terras situadas em zonas subpovoadas e longínquas como o Cáucaso eram doadas pelo governo em função do número de servos que se possuía. É a história da compra de servos que serve de pano de fundo para o retrato da Rússia oitocentista.
Almas Mortas
- Literatura Estrangeira
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