A luz desvanecia-se quando três barcos estranhos apareceram ao largo da costa da Índia, mas os pescadores em terra firme conseguiram distinguir-lhes os contornos. Os dois maiores pareciam umas baleias, com a sua enorme pança, com os lados salientes que serviam de suporte a robustas torres de madeira na proa e na popa. Os cascos em madeira, curados com o tempo, eram raiados de cinzento e, dos dois lados, espreitavam uns canhões de ferro compridos, como se fosse a barbicha de um monstruoso peixe-gato. As velas, quadradas e gigantes, inchavam contra o negrume do céu, cada uma maior do que a anterior, cada uma encimada por uma gávea em forma de tampa que dava a toda a plataforma o ar de uma família de gigantes fantasmagóricos. De imediato, notava-se logo a emocionante modernidade e a corpulência original destes visitantes alienígenas, mas de certeza que nada daquilo tinha sido visto até então.
Deu-se o alarme na praia e grupos de homens arrastaram quatro barcos, compridos e estreitos, para dentro de água. À medida que se iam aproximando, começavam a ver enormes cruzes carmesim inscritas em cada série de velas.
“Que nação é a vossa?”, gritou o chefe indiano, quando se aproximaram de um dos lados do barco mais próximo.
“Vimos de Portugal”, respondeu um dos marinheiros.
Ambos falaram árabe, o idioma do comércio internacional. Os visitantes, no entanto, traziam vantagem sobre os seus anfitriões. Os Indianos nunca tinham ouvido falar de Portugal, uma nesga de país na longínqua periferia da Europa Ocidental. Os Portugueses de certeza que conheciam a Índia e, para lá chegarem, tinham embarcado na mais longa e perigosa viagem que se conhece na História.
Corria o ano de 1498. Dez meses antes, a pequena frota tinha partido de Lisboa, capital portuguesa, numa missão que iria mudar o mundo.
Guerra Santa
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