Quando Kenneth Clark definiu o termo civilização em sua série homônima de TV, deixou perfeitamente claro para os espectadores que se referia à civilização do Ocidente – e sobretudo à arte e à arquitetura da Europa Ocidental, da Idade Média até o século XIX. O primeiro dos 13 filmes que ele fez para a BBC, ainda que sem ser indelicado, ignorava totalmente a Ravena bizantina, as Hébridas celtas, a Noruega viking e até mesmo a Aachen de Carlos Magno. Os tempos obscuros entre a queda de Roma e o Renascimento do século XII simplesmente não se qualificavam como civilização na concepção que Clark tinha da palavra. Esta só reviveu com a construção da catedral de Chartres, habilitada – apesar de não concluída – em 1260, e estava mostrando sinais de fadiga com os arranha-céus de Manhattan de meados do século XX.
Extremamente bem-sucedida, a série de Clark, transmitida pela primeira vez na Grã-Bretanha quando eu tinha cinco anos de idade, definiu civilização para toda uma geração no mundo anglófono. Civilização eram os chateaux do Loire. Eram os palazzi de Florença. Era a Capela Sistina. Era Versalhes. Dos interiores sóbrios da República holandesa às fachadas exuberantes do Barroco, Clark soube explorar seus conhecimentos de historiador da arte. A música e a literatura fizeram suas aparições; a política e até mesmo a economia assomavam de vez em quando. Mas a essência da civilização de Clark era, claramente, alta cultura visual. Seus heróis eram Michelangelo, Da Vinci, Dürer, Constable, Turner, Delacroix.
Neste livro, adotarei uma abordagem mais ampla e comparativa, e espero ser mais simples do que sublime. Minha ideia de civilização está tão associada com canos de esgoto quanto com arcobotantes, se não até mais, porque sem uma rede hidráulica pública eficiente as cidades são armadilhas fatais, transformando rios e poços em paraísos para a bactéria Vibrio cholerae. Sem nenhum constrangimento, estou tão interessado no custo de uma obra de arte quanto em seu valor cultural. Para mim, uma civilização é muito mais do que o acervo de algumas poucas galerias de arte de prestígio. É uma organização social extremamente complexa. Suas pinturas, estátuas e edifícios podem muito bem ser suas realizações mais cativantes em termos visuais, mas são ininteligíveis sem alguma compreensão das instituições econômicas, sociais e políticas que as conceberam, financiaram, executaram – e preservaram para que pudéssemos contemplá-las.
Civilização: Ocidente X Oriente
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