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Um livro generoso e crítico. Essas são características dominantes na tese de doutorado de Mauro Luis Iasi, defendida na Universidade de São Paulo e disponível aos leitores em edição já disputada.
Um livro generoso intelectualmente, aberto, meticuloso, arguto. Um livro crítico politicamente, inquieto, inconformado, duro e claro.
Dividido em duas partes desiguais, as quase seiscentas páginas dedicam incansável esforço à análise e ao debate de duas questões: uma teórica, em torno da consciência de classe, abrangendo mais da metade do volume; outra, menor, histórica, voltada para o estudo de caso de uma classe e um de seus partidos políticos, o PT.
Aqui, tempo e espaço da pesquisa e da reflexão estão definidos de antemão: o Brasil das décadas de 1980 e 1990, até a vitória eleitoral de Lula, em 2002.
O governo Lula não foi e não é uma traição aos ideais socialistas, doutrinários ou não. Mauro Iasi sabe disso. As tais diatribes governamentais foram práticas correntes nas administrações do PT e de seus aliados históricos ou ocasionais desde cedo, muito cedo.
O Brasil mudou, o PT mudou, e Lula mudou com eles, assim dizia a canção. A luta de classes não cabe em uma garrafa térmica política. E isso está bem documentado pois o autor examinou, com exaustão e rigor invejáveis, a fartura de informações e de experiências contidas nos depoimentos de militantes e dirigentes partidários, sindicais e do movimento social, além das áridas e emblemáticas resoluções emanadas dos encontros e congressos do PT, palcos de conflitos e de disputas intrapartidárias.
Os rumos do PT não surpreenderam ninguém, pois estavam proclamados nos documentos partidários, examinados com vigor nesta pesquisa. Muitas decepções foram alimentadas por ansiedade e informação desatualizada de militantes e eleitores…
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