
Em 1934, um ano depois do lançamento do livro Casa Grande & Senzala, o intelectual Gilberto Freyre organizou o 1º Congresso Afro-Brasileiro, na cidade do Recife. O encontro é um marco importante nas disputas discursivas em torno da questão do negro e do mestiço na história brasileira, uma vez que a década de 1930 representou um divisor de águas no (re)posicionamento político dos conceitos de raça e cultura, bem como na afirmação de uma identidade nacional.
Na ocasião, estiveram reunidos em Pernambuco intelectuais, artistas, estudantes, cozinheiras, rainhas de maracatú, babalorixás, ialorixás e militantes sociais que foram responsáveis por uma ampla e diversificada programação a partir de exposições artísticas, concerto de música, jantar típico, saídas de campo e debates acadêmicos.
Desta forma, este livro analisa a historicidade dos significados articulados nos diferentes discursos produzidos para este evento, assim como procura perceber de que forma foram mobilizadas as experiências e expectativas relacionados a um processo de afirmação étnico/racial/nacional naquele contexto.
As considerações pautadas por Freyre acerca do debate racial transitavam na contramão do pensamento hegemônico e científico da época, que condenava a mestiçagem e exaltava o arianismo enquanto modelo civilizacional. Por meio da articulação do 1º Congresso Afro-Brasileiro, o ensaísta pernambucano concebia o encontro como uma possibilidade efetiva de valorização da cultura negra e mestiça na história brasileira, tendo em vista o surgimento de novos investigadores, fontes e pesquisas.
No que diz respeito a revisão bibliográfica dedicada ao objeto desta pesquisa, deve-se ter presente que o 1º Congresso Afro-Brasileiro constituiu-se enquanto um evento pouco pesquisado pela historiografia. Diante disso, algumas considerações se fazem importantes para caracterizar essa suposta “indiferença” investigativa. Boa parte dos trabalhos imputaram ao 1º Congresso Afro-Brasileiro uma extensão das ideias freyrianas assumidas em Casa Grande & Senzala e consequentemente ao “mito da democracia racial”.
