O Mal Sobre A Terra: Uma História Do Terremoto De Lisboa

Na luz da tarde, sentados frente a frente, um perfume de café fresco no ar, o amigo perguntou: “Mas, por que um terremoto?”. De fato, o historiador tem, à sua espera, uma infinidade de temas fascinantes. A história fragmentou-se, estudando pedaços de tempo ou zonas do espaço.


Hoje, tempo e história não formam um único caudal; há meandros e afluentes, braços mortos e pântanos. “A ideologia não está mais lá para orientar a corrente”.
Os historiadores podem dar, assim, atenção à ausência de acontecimentos, aos períodos felizes, “páginas brancas da História”, como dizia Hegel, mas também aos momentos vazios, aos dias tediosos e sem glória, à vida de todos os dias; as maneiras de se distrair, de fazer amor ou morrer, as mentalidades, os mitos etc.
Ele mergulha onde corre um tempo lento, cheio de visco, desajeitado, espesso, que mostra menos o efêmero dos acontecimentos do que as permanências do espírito humano.
O historiador sabe, contudo, que não são os critérios mais objetivos os que o empurram na direção de velhos documentos, esses facundos intermediários capazes de fazê-lo conversar com os mortos.
Na maior parte das vezes são nossos próprios mortos, ou nossas próprias mortes em vida que nos instigam a debruçar-nos sobre um determinado tema.
Estudar um longínquo terremoto em terra que nem é minha foi, assim, consequência de um sismo secreto. Sismo doído, machucado, aterrorizador.
Uma experiência única que dilatou-se, difundiu-se e tirou toda a sua verdade de um desastre privado. Há momentos na vida do historiador em que ele, ou os seus, são objeto “de uma imensa mão que brinca com os minúsculos homens, e que, sem que eles esperem, arranca de um único golpe, seco e rápido, a casca da terra”.
Morre-se tanto de uma ruptura quanto de um tremor de terra. Eis a resposta que deveria dar ao meu amigo. Nessa alquimia que se trama no fundo da terra — ou da alma — e cujo segredo é elucidado anos mais tarde, apenas o tempo encarrega-se de neutralizar as dores da história individual. Ou coletiva.
Daí a vontade de contar história do terremoto de 1755 em Lisboa. Um terremoto que incentivou outros desafios.

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Na luz da tarde, sentados frente a frente, um perfume de café fresco no ar, o amigo perguntou: “Mas, por que um terremoto?”. De fato, o historiador tem, à sua espera, uma infinidade de temas fascinantes. A história fragmentou-se, estudando pedaços de tempo ou zonas do espaço.
Hoje, tempo e história não formam um único caudal; há meandros e afluentes, braços mortos e pântanos. “A ideologia não está mais lá para orientar a corrente”.
Os historiadores podem dar, assim, atenção à ausência de acontecimentos, aos períodos felizes, “páginas brancas da História”, como dizia Hegel, mas também aos momentos vazios, aos dias tediosos e sem glória, à vida de todos os dias; as maneiras de se distrair, de fazer amor ou morrer, as mentalidades, os mitos etc.
Ele mergulha onde corre um tempo lento, cheio de visco, desajeitado, espesso, que mostra menos o efêmero dos acontecimentos do que as permanências do espírito humano.
O historiador sabe, contudo, que não são os critérios mais objetivos os que o empurram na direção de velhos documentos, esses facundos intermediários capazes de fazê-lo conversar com os mortos.
Na maior parte das vezes são nossos próprios mortos, ou nossas próprias mortes em vida que nos instigam a debruçar-nos sobre um determinado tema.
Estudar um longínquo terremoto em terra que nem é minha foi, assim, consequência de um sismo secreto. Sismo doído, machucado, aterrorizador.
Uma experiência única que dilatou-se, difundiu-se e tirou toda a sua verdade de um desastre privado. Há momentos na vida do historiador em que ele, ou os seus, são objeto “de uma imensa mão que brinca com os minúsculos homens, e que, sem que eles esperem, arranca de um único golpe, seco e rápido, a casca da terra”.
Morre-se tanto de uma ruptura quanto de um tremor de terra. Eis a resposta que deveria dar ao meu amigo. Nessa alquimia que se trama no fundo da terra — ou da alma — e cujo segredo é elucidado anos mais tarde, apenas o tempo encarrega-se de neutralizar as dores da história individual. Ou coletiva.
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