Cinema 2.0: Modalidades De Produção Cinemática Do Tempo Do Digital
– O que é o cinema no momento em que a digitalização intervém em todos os seus domínios e reformula ou reorganiza os seus modos convencionais? Tem ainda sentido usar a expressão cinema ou é já de outra coisa que falamos quando a película, o material fundamental do cinema durante mais de um século, é cada vez mais rara, e os seus circuitos de circulação, formas de elaboração e atitudes de receção, se distanciam em larga medida das tornadas habituais naquele mesmo período?
Cinema 2.0 sugere respostas para estas questões a partir da análise de modalidades de produção cinemática contemporâneas forjadas no tempo do digital. Recorrendo ao mapeamento de múltiplas manifestações e exemplos desenvolvidos contemporaneamente quer na esfera mainstream, quer em contextos marginais, propõe a compreensão do cenário cinemático em definição, observado a partir da perspectiva da produção. Daqui decorre a identificação de quatro núcleos fundamentais que determinam hoje, em parte, o fazer cinemático e que se opta designar por microcinema, cinema colaborativo, cinema pro-am e cinema ao vivo.
Como indicia o prefácio de Cinema 2.0, da autoria de José Luís Garcia, este é um problema ainda em construção o que obriga à volatilidade e impossível encerramento das interpretações sobre o mesmo. Por essa razão, mais do que encontrar respostas definitivas e cabais, este trabalho tenta situar o leitor traçando coordenadas para viagem neste território e convida-o a formular reflexões.
Em Cinema 2.0 são realçadas e submetidas a análise as mudanças estruturais no medium que foi associado ao cinema, os novos modos de elaboração de imagens em movimento, com materiais e equipamentos renovados, distintas modalidades de produção e mobilização de recursos e intervenientes inéditos, assim como os mais recentes meios de circulação e de difusão, que reconfiguram os sistemas convencionais, e diferentes regimes de receção que convocam outras atitudes por parte do espectador. No final da sua leitura cada um se sentirá compelido a encontrar a sua resposta à questão: é ainda de cinema que falamos ou já estamos diante de uma outra coisa, num mundo revolvido que está a irromper? Não há melhor obra para ser lida do que aquela que nos coloca nesta situação.