Num texto lúcido, informativo e esclarecedor, o jurista Márlon Reis idealizador da Lei Ficha Limpa e fundador do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) explica como é possível manter o Brasil de pé por meio de uma profunda reforma política que começa nos direitos de cada cidadão e se reflete nos deveres de cada político. O Gigante acordou? É a pergunta que nós, brasileiros, nos fazemos todos os dias. O que fazer a seguir? Por onde começar a mudança? A rebeldia cidadã constitui um dos maiores sinais de vitalidade de um povo. Quem arriscar tapar os olhos para não ver os acontecimentos, talvez esperando que o tempo trate de apagar as marcas do ocorrido, tem muito mais a aprender que os jovens brasileiros que cantaram o Hino Nacional sobre o teto de um lugar acostumado a esquecer a sua letra: o Congresso Nacional.
“E o senhor acha pouco?”, perguntou o motorista Eriberto França ao ser questionado pelo deputado Roberto Jefferson se as denúncias que havia feito contra o presidente Fernando Collor eram movidas apenas por patriotismo. Para o parlamentar era difícil acreditar que havia um brasileiro, trabalhador, gente simples, sem diploma nem autoridade, disposto a enfrentar o poder e a confirmar a existência de contas fantasmas, onde era depositado o dinheiro da corrupção, usado por Collor e o tesoureiro dele, PC Farias. Jefferson – que mais de uma década depois seria protagonista das denúncias do Mensalão – considerava inimaginável alguém deixar o sossego do seu cotidiano sem que fosse movido por segundas (e más) intenções. Não é de surpreender que pensasse assim. Historicamente, a elite política do Brasil subestimou a força do cidadão e a avaliou usando sua própria régua moral e cívica.
Nos protestos juninos, que assistimos sem entender bem o que acontecia (este livro nos ajuda a ter compreensão melhor dos fatos), novamente o comportamento do cidadão foi questionado. Apressaram-se a culpar a oposição, que poderia ser qualquer coisa que estivesse do outro lado. Procuraram responsáveis na direita e na esquerda, em cima e embaixo, sem perceber que esta disposição física não se encaixava mais nas ideologias que se contróem em rede, neste emaranhado de pensamentos produzidos na internet graças as pessoas intensamente conectadas. Acusaram motivação política ao verem jovens, senhoras e senhores ocupando as ruas, como se exercitá-la fosse direito privado dos partidos. Esses que ali estavam, com cartazes nas mãos e coração indignado, não esperavam derrubar um governo, como se fez com Collor, nem ratificar uma lei, como nas Diretas Já, queriam reclamar do sistema (ou dos sistemas) e defender a democracia. Mas foram obrigados a ouvir a ironia da autoridade: “tudo isso apenas por 20 centavos?”. Não tiveram capacidade de entender que se pedia muito mais: respeito.