Habitando O Tempo é um livro que traz à tona as memórias de Marília Guimarães, uma ex-guerrilheira engajada na luta contra a ditadura militar nos anos de chumbo no Brasil, sua fuga do país e seus anos de exílio em Cuba.
Suas reflexões, dores e angústia, bem como as situações que as causaram, são apresentadas em um paradoxo que envolve também as alegrias, as saudades dos amigos e a vivência com as maiores personalidades revolucionárias do século XX.
O livro que o leitor tem em mãos, trata do resgate das memórias de quem não se curvou diante das imposições e determinações de seu tempo.
Posto em forma de narrativa, Habitando O Tempo é um documento histórico que foge das formalidades da análise documental por se tratar de um resgate vivo, vivenciado, experimentado na carne e no sofrimento da autora, que junto de si, traz a lembrança de seus companheiros, de sua época e de seu povo.
Neste livro, o leitor não encontrará um romance ou obra literária.
Encontrará memórias que, oxalá, nos ajudem a compreender causalidades entrecruzadas de nosso tempo, resgatar a dignidade dos enfrentamentos políticos atuais a partir da pertinência de narrativas como fontes documentais, valorizar nossa identidade cultural e honrar o sangue daqueles que se recusaram a inclinar as frontes diante do opressor.
Eu, Marilia Guimarães, brasileira, descendente dos Lima Cunha Guimarães, da Cidade de Guimarães – Portugal – nascida no ano do Dragão, conheci desde cedo as diferenças sociais, no quintal da casa da minha avó, onde excluídos vinham por um pedaço de pão ou um prato de comida.
Herdei dos meus antepassados o amor à pátria, à família, a nostalgia dos fados, o amor pelas montanhas e o fascínio pelo mar. Aprendi a amar, respeitar os homens e sua múltipla diversidade.
Desejo como tantos, um mundo melhor, com dignidade, ética, sem corrupção e impunidade.
Tive o privilégio de viver os movimentos de libertação da segunda metade do XX. Das décadas em que todos os continentes se atreveram a enfrentar os preconceitos, a falta de liberdade.
Sou resultado deste momento histórico, época em que os famosos “Barbudos da Sierra Maestra” ousaram Lutar e ousaram Vencer.
A ditadura Militar no Brasil nos levou às prisões, assassinou companheiros, nos arrastou ao exílio.
Durante dez anos, vivi longe da minha pátria. Durante dez anos conheci a solidariedade, o amor , a ternura. Participei em Cuba da construção de uma nova sociedade.
Baseada nestes princípios tenho vivido. Entre trancos e barrancos, sou feliz.