Um balanço da produção historiográfica sobre a natureza dos conflitos políticos e o papel do Estado na Primeira República nos permite detectar duas tendências básicas. A primeira sustenta que o Estado não se define como representante de classes ou de grupos de interesse dominantes na sociedade, mas como um ator político que representa a “si mesmo” , ao mesmo tempo em que articula grupos e/ou classes sociais, possuindo assim um conteúdo marcadamente patrimonialista. No plano das disputas políticas, a cooptação com base no clientelismo tenderia a predominar sobre formas clássicas de representação de interesses.
Uma segunda linha de interpretação é a que sustenta uma estreita associação entre os interesses econômicos dominantes e o controle do Estado, O que significa afirmar que OS interesses cafeeiros de São Paulo e Minas eram determinantes na orientação da política republicana. Como consequência dessa interpretação há uma supervalorização do papel desses dois estados no jogo político oligárquico e um silêncio sobre o papel e a trajetória dos estados considerados de segunda grandeza, como Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.
Um fato que nos parece básico é que desde o início o esquema de dominação São Paulo-Minas abriu espaço para O surgimento de conflitos no seio da classe dominante. A insatisfação dos estados de segunda grandeza diante das deformações do federalismo, que limitavam grandemente sua autonomia no campo político e subordinavam seus interesses econômico-financeiros aos interesses mineiros e paulistas, deu origem a iniciativas de contestação que não podem ser ignoradas. Embora essas iniciativas nem sempre fossem claramente delineadas ou explicitadas, e se caracterizassem por uma instabilidade dos atores-estados nelas engajados, é possível identificá-las ao longo de toda a República Velha.
Nosso interesse reside em destacar a complexidade do pacto oligárquico na Primeira República e buscar um melhor desenho do sistema federalista brasileiro, através do estudo da atuação de grupos regionais de segunda grandeza e de suas tentativas de construção de um eixo alternativo de poder. Alguns estudos têm sido produzidos nessa direção, propondo uma revisão do papel do eixo dominante Minas-São Paulo.
Em Busca Da Idade De Ouro
- Ciências Sociais, História
- 13 Visualizações
- Nenhum Comentário
Link Quebrado?
Caso o link não esteja funcionando comente abaixo e tentaremos localizar um novo link para este livro.