Começo este trabalho fazendo referência à sua designação, ao seu nome. Sabe-se que a escolha de um título, seja para uma obra de arte ou um texto acadêmico, é uma questão importante e difícil, pois nele deve estar contida uma idéia capaz de resumir a obra.
Além disso, o título deve ainda atrair o interesse pelo trabalho realizado.
Assim, dizer em uma frase – um título – que este trabalho se ocupa de questões ligadas à história do cinema foi um problema colocado ao longo de sua execução.
Surgiu então este título: Imagens de um Tempo em Movimento. Parece-me, entretanto, que esse título reclama alguma explicação, pois “tempo em movimento” não seria um pleonasmo?
A rigor, existiria um tempo parado, isto é, um tempo que não estivesse em movimento? Contudo, esse “tempo” de que se fala aqui não é tomado linearmente, enquanto sucessão de anos, dias, horas, meio contínuo em que os acontecimentos também se sucedem.
Ou seja, “o tempo como parte mensurável do movimento”, segundo sua definição clássica. Trata-se, ao contrário, do tempo visto como “durações descontínuas”, uma concepção da física quântica utilizada por Gaston Bachelard, na qual “o que determina sua intuição não é o movimento, mas sim a mudança”. Bachelard apresenta ainda uma noção do “tempo espiritual” hegeliano, “do tempo nele mesmo”, analisado por Koyré:
Esse tempo não transcorre de modo uniforme; não é tampouco
um meio homogêneo através do qual nós passaríamos; não é nem
a cifra do movimento nem a ordem dos fenômenos. Ele é enriquecimento,
vida, vitória. Ele é o próprio espírito e o conceito.
Sem pretensão alguma de seguir por esses difíceis caminhos das complexas discussões acerca do Tempo, procura-se apenas negar, com essa outra idéia de tempo, a aparente redundância do título.
Tem-se dele agora uma nova dimensão: imagens de vida em movimento.
Ou ainda, imagens de enriquecimento, de mudança através do movimento. Assim, ao falar de imagens, tempo e movimento, o título engloba três elementos constituintes da História (visão de um passado, real ou imaginário, vivido) e do Cinema (luz, câmera, ação): a imagem, matéria-prima do cineasta; o tempo, matéria-prima do historiador; o movimento, imagem e tempo narrados.
Finalmente, o subtítulo – Cinema e Cultura na Bahia nos Anos JK (1956 – 1961) – vem situar as imagens e o tempo que serão narrados.