
O tema da história da alfabetização tem sido bastante debatido em nosso país na produção acadêmica contemporânea. Sabe-se que esse é um dos mais significativos objetos de estudo no campo da educação.
Como pensar o conceito de escola sem considerar a relevância pedagógica e simbólica do aprendizado da leitura e da escrita? Como compreender a educação moderna sem conceber a habilidade da leitura como requisito de um repertório intrínseco à própria constituição da modernidade?
Aliás, em um país como o Brasil, estudar a alfabetização é um dever. Nosso país, como se sabe, não teve — em uma trajetória de longa duração — a educação como prioridade de suas políticas públicas. Sabe-se que avançar no campo da cultura é investir na formação letrada das populações.
Sem isso, não chegaremos a qualquer patamar de desenvolvimento sustentável.
O I Seminário Internacional sobre História do Ensino de Leitura e Escrita (I SIHELE) – ocorrido, sob organização da Profª. Drª. Maria do Rosário Longo Mortatti, na Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista (UNESP) – campus de Marília, entre 8 e 10 de setembro de 2010 — teve por principal finalidade congregar teóricos e grupos de pesquisa que desenvolvem trabalhos sobre a história da alfabetização, tendo em vista abordar a constituição do campo da história do ensino inicial da leitura e da escrita nas diferentes regiões do Brasil.
Na trajetória de uma tradição desbravada por gerações anteriores — destacando-se aqui a primorosa obra de Magda Soares, bem como o consagrado trabalho de Paulo Freire —, Maria do Rosário Longo Mortatti destaca-se como líder no campo da investigação acerca do tema, desde que publicou pela Editora UNESP, no final dos anos 90, sua tese de livre-docência, sob o título Os sentidos da alfabetização: São Paulo – 1876-1994 — que hoje, pode-se dizer, é a maior referência nacional para os estudos do campo.
Se, nas décadas precedentes, o estudo da alfabetização foi conduzido primordialmente pela interpretação linguística ou pela crítica política, nos anos 90, a tendência predominante foi a de recorrer ao procedimento historiográfico para deslindar a trajetória de práticas escolares, com ênfase na vida cotidiana, nos rituais e nos vestígios da cultura pedagógica.
O pioneirismo da abordagem de Maria do Rosário Longo Mortatti decorre dessa matriz analítica: reconstituir os “sentidos da alfabetização”, perscrutando as cartilhas que, em diferentes tempos, nos foram dadas a ler.
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