Partindo de uma perspectiva socioantropológica baseada em Lévi-Strauss e outros teóricos, a autora observa adeptos de estilos de alimentação natural como a vegana e o alimento vivo. Com isso, constrói uma análise interpretativa sobre os sentidos e significados no campo da nutrição, contribuindo para o campo da saúde coletiva. Ao pesquisar o significado dos alimentos na sociedade, propõe uma reflexão sobre a cultura alimentar no Ocidente.
Tomando como questão de análise um tema por vezes culturalmente recorrente na história do campo da alimentação, o da “alimentação natural” ou da comida natural, por oposição às comidas industrializadas, tecnologicamente processadas, a autora aproveita a oportunidade para discutir concepções fundamentais como o de “natural”, ou “racional” nesse campo, acentuando seu caráter histórica e socialmente construído, assim como o processo de racionalização por bricolagem dessa construção, encetando, portanto, uma abordagem compreensiva interpretativa do objeto de estudo.
No estudo de campo etnográfico, ao mesmo tempo que registra as características sociais do ambiente e entrevista os sujeitos da pesquisa, Maria Cláudia utiliza categorias teóricas básicas como sentidos e significados, poder simbólico e bricolagem alimentar, originários da socioantropologia e atribuídos às escolhas alimentares “naturais” por seus informantes, no sentido de acentuar essa construção cultural voluntária do alimentar-se; ela vai às suas origens, aos valores e às escolhas significativas que estão em sua base e investiga suas justificativas, a fim de interpretar o pensamento leigo, mas estruturado que ali reside, ou a “racionalidade leiga” que motiva o agir de seus sujeitos de pesquisa, a liberdade de escolha de seus atos face ao comer, ao alimentar-se, liberdade que se põe “em face”, isto é, em oposição ao modelo cultural alimentar dominante.
Demonstra, assim, a existência de contracultura(s) nesse campo, as escolhas e os saberes em sua base, e nos proporciona uma reflexão sobre a interlocução de saberes, científicos ou “leigos”, como outra forma de construir a alimentação e o alimentar-se na cultura contemporânea.