Nunca se falou tanto em leitura. Nas últimas décadas, historiadores, teóricos, críticos literários, pesquisadores, escritores, professores de letras ou pedagogia produziram obras esquadrinhando o ato de ler, investigando seus pressupostos na aquisição da leitura, sugando as próprias memórias de leitor, inventariando sua presença em outros séculos em cuidadosas reconstituições históricas etc. O certo é que, nos últimos anos, o assunto vem sendo posto em evidência cada vez com mais intensidade: proliferam nas livrarias publicações que trazem no título os substantivos “leitura”, “livros”, “leitor”, “biblioteca” ou o verbo “ler”. Não há o que duvidar: o assunto está na moda, ganhou visibilidade e compreende-se melhor, hoje, sua enorme importância na formação das pessoas.
Na grande maioria dessas obras emerge, cristalina, a fria objetividade científica. Antes que me interpretem mal, afirmo que durante os últimos trinta anos tais textos – ao lado da cativante leitura dos textos literários – também me alimentaram. Desde aquele primeiro título que aqui chegou e me encantou, Como incentivar o hábito da leitura, de Richard Bamberger, publicado pela Cultrix em convênio com o Instituto Nacional do Livro – mec, em 1977, até as mais recentes aquisições, das editoras e minhas. Esse primeiro livro falava tanto e tão bem daquilo que eu queria ouvir – como contagiar nossos alunos com leitura, por exemplo; afirmava tantas coisas que eu vinha percebendo desde a minha adolescência, quando eu atravessava as noites grudada nos romances, enquanto minhas colegas recitavam oralmente a matéria, e nas provas e redações eu me saía melhor – que me lembro de ter voltado à livraria e comprado três exemplares. Isso em 1977, há 32 anos, portanto. Dois eram para empréstimo: eu queria muito que professores de língua portuguesa, colegas meus, conhecessem e praticassem o incentivo à leitura em suas classes. Não, este pequeno livro não foi o suficiente para a grande virada: quebrar um paradigma é um desafio e tanto…