
São Luís. A cidade analisada neste livro é plural e ao mesmo tempo única. O espaço pensado por Luiz Eduardo Neves dos Santos não cabe nos limites físicos que formalmente circunscrevem a capital do Maranhão. Isso porque, a despeito do olhar acadêmico que evidencia a formação do autor, a São Luís aqui dissecada extrapola seu espaço geográfico.
Constitui-se enquanto sociabilidades, desafios, sentimentos, solidariedades, violências… Um sem-número-de-expressões que desnudam uma cidade que resiste a uma leitura totalizante. Um espaço a contrapelo do que se espera da urbe, ao menos segundo a definição romana da expressão.
O Urbano Ludovicense reúne textos escritos em diferentes momentos da vida acadêmica do autor. Observados de forma aglomerada, parecem compor algo pensado desde o princípio para a construção de um todo. Contudo, a escrita de Luiz Eduardo, ora reunida, em verdade não nasceu com tal propósito. Fez-se como reflexões fracionadas, enquanto reação a fatos que, sob o signo do urbano, aguçaram a produção textual do professor.
Ainda assim, o autor consegue conferir organização aos diferentes textos da obra, reunindo-os em duas partes principais. A primeira, de nome São Luís: expansão, produção e fragmentação do espaço, tem um tratamento notadamente acadêmico. Nela se percebe o autor como geógrafo, preocupado em dar densidade e critérios científicos a suas abordagens.
A cidade de São Luís se apresenta como pano de fundo para debates mais próprios do campo da Geografia, como planejamento urbano, verticalização, desigualdades socioespaciais, paisagem e toponímia. Por outro lado, sempre com uma apurada e atualizada verve marxista, Luiz Eduardo dialoga com temas transdisciplinares, a exemplo da modernidade, educação e memória.
A segunda parte do livro é menos pretensiosa sob a perspectiva erudita. Nela emerge o autor como ensaísta. A São Luís desenhada em Olhares geográficos sobre a cidade e outros temas, se ainda serve para reflexões de cunho geográfico, projeta-se para algo bem mais fluído. Aos poucos, fragmenta-se uma cidade ainda visível a partir de categorias acadêmicas que norteiam o ambiente urbano. A São Luís ali comentada se mostra agora caótica, servindo de laboratório para a reflexão de problemas bem maiores do que sua geografia.
O urbano como tragédia, a cidade como espaço agonizante, a violência do racismo, da pós-verdade e da pandemia… tudo cabe em São Luís e nada se limita a São Luís. Não coincidentemente, O Urbano Ludovicense se encerra num tom eminentemente político. Os últimos ensaios do livro são de puro protesto! Uma reflexão inquieta e quase instintiva às amarguras e às dores que cotidianamente atingem o autor… e a todo(a)s nós.
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