Lúcio Cardoso – Crônica Da Casa Assassinada
Em 1959, um romance abalava o meio literário brasileiro, inovando tanto na sua estrutura narrativa quanto no aprofundamento ideológico e estilístico.
Seu autor, Lúcio Cardoso, um mineiro radicado no Rio de Janeiro, ganhou fama de maldito. O livro, Crônica Da Casa Assassinada, tornou-se um clássico da literatura nacional e, 40 anos após o seu lançamento, recebeu uma edição comemorativa, resgatando o texto original e com apresentação do crítico literário André Seffrin.
Crônica Da Casa Assassinada é a história de uma família em franca derrocada social e moral. Uma história que somente é conhecida pelo relato de seus próprios personagens, por meio de cartas, diários, memórias, confissões, depoimentos, e cujos temas centrais são o adultério e o incesto, a loucura e a decadência.
Numa linguagem altamente metafórica, monta-se um esquema estruturalmente complexo, no qual verdade e mentira chegam aos limites do paroxismo.
Em 1971, Crônica Da Casa Assassinada foi adaptado para o cinema por Paulo César Saraceni, que também filmou Porto das Caixas (1961), baseado em outra história de Lúcio e no romance inacabado O Viajante (1998).
No que diz respeito à Crônica Da Casa Assassinada, Wilson Martins afirmou que havia “o paradoxo da passagem para um plano de qualidade que a obra anterior não permitia esperar”.
Numa visão geral, pouco há que acrescentar a estas linhas em termos de julgamento crítico inicial da obra do autor como também às interpretações de Álvaro Lins, Temístocles Linhares e, recentemente, de Massaud Moisés e Alfredo Bosi.
São visões, diga-se de passagem, nem sempre coincidentes mas modelares como ponto de partida para qualquer análise futura do romancista.
Na Crônica Da Casa Assassinada ele deu voz a sua tumultuada galeria de personagens, onde ganham eles seu verdadeiro contorno numa voz que é antes de tudo e unicamente do autor. Delineando enfim seu retrato acabado de homem e de artista, é nesta “gigantesca espiral colorida” que falam todas as suas vozes.
Enfim o escritor se encontra com os seus personagens, de maneira a fazê-los carne da sua carne, expressão dilacerada de sua angústia e inadaptação. Um universo polifónico, um espelho estilhaçado onde se estampa multiplicado e único o rosto do autor.
“Como um sol visto de todos os lados, a sua figura resplandecendo”, para usar uma de suas extraordinárias imagens. Imagens de um prosador que sempre escreveu iluminado pelo poeta que nunca deixou de ser.
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