
A transferência da Família Real para o Brasil não foi uma medida tomada às pressas. Ao contrário, já era um projeto político arquitetado pela monarquia portuguesa desde o século XVI, que ganhava força sempre nos momentos de instabilidade política da Coroa.
Em 1808, por fim, os planos de transladação do governo português para a sua mais importante colônia se tornavam realidade: o Rio de Janeiro emergia como nova capital do Império Português, impulsionando, dessa forma, transformações políticas de grande impacto nos dois lados do Atlântico durante os treze anos em que a Família Real permaneceu em nossas terras.
As guerras napoleônicas (1808-1815), o fim do apogeu de Bonaparte com a restauração do Antigo Regime na Europa (1815), a elevação do Brasil a Reino Unido de Portugal e Algarves (1815), a Revolução Pernambucana como um movimento contestatório ao poder absoluto de dom João (1817), a aclamação de dom João VI no Brasil (1818), a Revolução do Porto e as consequências desse processo com a volta do Rei à Europa (1820-1821) – todos esses fatos históricos, descritos e analisados neste livro, foram cruciais nas grandes mudanças que delineavam a nova ordem política no jogo das relações luso-brasileiras.
Este livro trata especificamente das interfaces entre a política e o cotidiano no Rio de Janeiro no período joanino em meio a tantas transformações políticas e aos muitos conflitos e desafios da nova sociedade que se formava nos trópicos e que, invariavelmente, foram permeadas por um projeto político de sustentação do Império Português nas duas margens do Atlântico.
Os temas abordados perpassam desde a estruturação das novas instituições régias que surgiam na América Portuguesa e delineavam a nova governabilidade da monarquia portuguesa, com sede no Rio de Janeiro, a partir de 1808, à volta de Dom João VI para Portugal, em 1821, quando as consequências da crise do Antigo Regime Português já apareciam de forma mais patente no universo público, ao fim do período, mais precisamente entre 1817 e 1821.
