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A obra de Júlia Leite Gregory é de grande importância à historiografia. Uma História Social Da Colonização Privada é um livro de escrita fluida e refinada, que parte de uma pesquisa densa e qualificada em fontes primárias. A investigação do mercado de terras no Vale do Taquari traz várias contribuições para os estudos sobre a imigração no Brasil oitocentista.
O presente trabalho inova esse campo de investigação ao mostrar que a diversificação de atividades e as redes de relações políticas construídas pelos empresários da colonização foram centrais para os seus negócios. Gregory aponta o peso do patrimônio fundiário na formação da fortuna dos negociantes, em uma época em que a variação de atividades era fundamental para o sucesso nos negócios.
A partir de suas pesquisas sobre a documentação cartorial, a autora analisa detalhadamente a ocupação do Vale do Taquari na segunda metade do século XIX, e completa diversas lacunas sobre o comércio de lotes coloniais nessa região. Júlia Leite Gregory enriquece o debate sobre a imigração na Província de São Pedro no século XIX, e certamente será uma referência importante para os estudos sobre o tema.
O trabalho se apoia em alguns aspectos metodológicos da micro-história italiana, como a redução da escala de análise, o cruzamento de fontes e a construção do contexto a partir das mesmas. Com a utilização deste método, busca-se corrigir simplificações feitas pelas grandes narrações, entendendo que a micro-história não é o estudo de coisas pequenas, acontecimentos, situações individuais, mas sim um método de análise histórica que busca a complexidade e a problematização “[…] de contextos temporais e espaciais diferentes, deixando às situações singulares a sua especificidade não repetível”.
A redução da escala sobre a vida de um indivíduo permite a reconstituição das redes de relações pessoais a partir do nome de um sujeito. Como sugere Ginzburg, “as linhas que convergem para o nome e que dele partem, compondo uma espécie de teia de malha fina, dão ao observador a imagem gráfica do tecido social em que o indivíduo está inserido”.
O método onomástico pode ser complementado ainda com o recorte horizontal, o qual visa eleger um ponto bem específico de análise, que pode ser um nome próprio ou um recorte temporal e espacial preciso, e investigar todo tipo de documento disponível, problematizando os sujeitos e inserindo-os em diferentes contextos e relações sociais.
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