Ora Bolas: O Humor De Mario Quintana

Ora Bolas, para mim, é um livro de humor. Em 1976, pleno boom do novo humorismo gaúcho, amplos espaços abertos no caderno “Guia”, de Zero Hora e no “Quadrão” da Folha da Manhã, editei com Guaraci Fraga a antologia de humor 14 Bis – que se seguia ao livro QI 14, com outros quatorze humoristas, lançado pela Editora Garatuja um ano antes.

Quintana foi convidado para entrar na antologia como homenageado especial e natural. Aceitou na hora, quis selecionar seu material. O que quer dizer que também se via como um humorista. Às vezes ele próprio se surpreendia com a piada que brotava, tal a velocidade do raciocínio. Mas havia muitas guardadas na manga, e essas se podia reconhecer pela expressão que assumia, aguardando o riso em volta.
Os humoristas fazem humor para que se ria, óbvio, seja um riso escancarado, um riso de puro deleite, um riso amarelo ou um riso constrangido. Mario Quintana cultivava todas essas modalidades. Tinha o timing da piada e gostava de seu lado clown. Tanto, que chegava a promovê-lo. Achava engraçadíssima e se divertia contando aos amigos, por exemplo, a história do porteiro do Hotel Presidente que um dia deu este conselho à sobrinha Elena Quintana: “A senhora tem que anotar essas besteirinhas que o seu Mario diz, isso é tudo poesia”.
O porteiro sabia. Com Quintana vivo, muitas historinhas, ou anedotas, ou causos, circulavam contados por amigos – mas quase sempre sob a capa do folclore em torno dele. E é claro que a cada dia ele se encarregava de aumentar o estoque. Isso foi até quase o dia da morte, como se verá. Com Quintana no céu, alguns velhos amigos passaram a imaginar que a reunião dos causos, ou anedotas, ou historinhas, em um livro como este, poderia diminuir a imagem do poeta, enfatizando a do clown. Como se não a imagem, mas o poeta, corresse algum risco.
Mario Quintana é um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos. Sua significação só tem aumentado e continuará a aumentar. Poderá ser lido séculos à frente, se existirem séculos, porque sua poesia é rigorosamente universal e atemporal. E sua obra está toda aí, disponível. Não aparecerão poemas inéditos, como costuma ocorrer, porque seu testamento informal proibiu: nada de edições póstumas. E para ser radical, ainda recomendou a Elena que estivesse alerta: “Se aparecer alguma coisa psicografada por mim, não fui eu quem psicografou”.

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, para mim, é um livro de humor. Em 1976, pleno boom do novo humorismo gaúcho, amplos espaços abertos no caderno “Guia”, de Zero Hora e no “Quadrão” da Folha da Manhã, editei com Guaraci Fraga a antologia de humor 14 Bis – que se seguia ao livro QI 14, com outros quatorze humoristas, lançado pela Editora Garatuja um ano antes. Quintana foi convidado para entrar na antologia como homenageado especial e natural. Aceitou na hora, quis selecionar seu material. O que quer dizer que também se via como um humorista. Às vezes ele próprio se surpreendia com a piada que brotava, tal a velocidade do raciocínio. Mas havia muitas guardadas na manga, e essas se podia reconhecer pela expressão que assumia, aguardando o riso em volta.
Os humoristas fazem humor para que se ria, óbvio, seja um riso escancarado, um riso de puro deleite, um riso amarelo ou um riso constrangido. Mario Quintana cultivava todas essas modalidades. Tinha o timing da piada e gostava de seu lado clown. Tanto, que chegava a promovê-lo. Achava engraçadíssima e se divertia contando aos amigos, por exemplo, a história do porteiro do Hotel Presidente que um dia deu este conselho à sobrinha Elena Quintana: “A senhora tem que anotar essas besteirinhas que o seu Mario diz, isso é tudo poesia”.
O porteiro sabia. Com Quintana vivo, muitas historinhas, ou anedotas, ou causos, circulavam contados por amigos – mas quase sempre sob a capa do folclore em torno dele. E é claro que a cada dia ele se encarregava de aumentar o estoque. Isso foi até quase o dia da morte, como se verá. Com Quintana no céu, alguns velhos amigos passaram a imaginar que a reunião dos causos, ou anedotas, ou historinhas, em um livro como este, poderia diminuir a imagem do poeta, enfatizando a do clown. Como se não a imagem, mas o poeta, corresse algum risco.
Mario Quintana é um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos. Sua significação só tem aumentado e continuará a aumentar. Poderá ser lido séculos à frente, se existirem séculos, porque sua poesia é rigorosamente universal e atemporal. E sua obra está toda aí, disponível. Não aparecerão poemas inéditos, como costuma ocorrer, porque seu testamento informal proibiu: nada de edições póstumas. E para ser radical, ainda recomendou a Elena que estivesse alerta: “Se aparecer alguma coisa psicografada por mim, não fui eu quem psicografou”.

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