Até recentemente, as paisagens culturais de gênero-sexualidade, etnia-raça, geração, nação, entre outras mais, forneciam sólidas e confortáveis localizações para o indivíduo.
Porém, as mudanças que ainda estão a ocorrer, fragmentaram estas paisagens, bem como as identidades coletivas e individuais, causando a perda de sentido de nós mesmos, que Hall chama de deslocamento ou descentramento do sujeito.
Hoje, aquele lugar de conforto deixou de existir, dando lugar a um cenário no qual proliferam uma infinidade de significados, representações e discursos provenientes dos mais variados sistemas simbólicos, e que nos interpelam a todo instante.
Isso tornou a contemporaneidade profundamente complexa e cambiante. Agora, o sujeito passou a ser visto como localizado e fluido. Na tentativa de compreender esta cena cultural complexa, com múltiplos sujeitos e espaços cindidos, é que nos lançamos neste projeto.
O livro está dividido em duas partes. Na primeira, Sujeitos Múltiplos, colaboram pesquisadores e pesquisadoras que tem aceitado o desafio de produzir conhecimento sobre identidades em tempos de incredulidade ante a ofensiva contra grupos minoritários como mulheres, LGBTs, indígenas, comunidades negras, e deficientes físicos.
Na parte 2, Identidades em Espaços Outros, reunimos os artigos que elegem espaços outros de constituição de identidades, como o espaço educativo, o acadêmico-científico, os programas governamentais, e os artefatos culturais.
As análises desenvolvidas neste livro, adotam vários e diferentes caminhos e temáticas que não intencionam chegar a verdades universais sobre a produção dos sujeitos e a constituição de suas identidades em espaços outros, ao contrário, são problematizações que se iniciam sabendo que o ponto de chegada é sempre um devir, porque as trilhas percorridas são formadas por rupturas e descontinuidades, são estradas que se ramificam a todo instante, intercruzando-se livremente.
Esse posicionamento não poderia ser outro, já que é o fio da análise cultural que entrelaça o movimento livre e profícuo das abordagens sobre identidade aqui realizadas.
Feminismos, relações com o corpo, gênero e sexualidade, masculinidade, identidade indígena, identidade negra, representações sobre pessoas com deficiência e sobre mulheres, mídia, identidade religiosa, produção de sentidos e significados sobre morte e processos de ensinar e aprender, resistências, formação continuada, estão vinculados aos modo de vida dos sujeitos, afinal, a cultura pode ser pensada como sendo exatamente isso, um modo de vida no qual as identidades são produzidas.