
A coletânea de textos que o leitor tem em mãos é uma obra oriunda das ponderações dos Colóquios do Museu Pedagógico da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), mais precisamente dos XII Colóquio Nacional e V Colóquio Internacional, realizados em setembro de 2017 nas dependências da Uesb, campus de Vitória da Conquista, Bahia, cujas reflexões giraram em torno da conjuntura e estrutura do mundo atual, nos seus vários aspectos e esferas: Estado, Política e Sociedade, sinalizando sempre para a questão candente “estaria o mundo de ponta-cabeça”?
O principal objetivo da problemática levantada foi conjeturar sobre a realidade então vivida no âmbito das relações sociais naquele – que ainda é atual – contexto, marcado por eventos expressivos – muitos deles inusitados – e que, no ambiente do primeiro quartel do século XXI, apontaram/apontam para imprevisibilidades históricas, trazendo consigo medos e incertezas de um presente e futuro assolados por “fantasmas” que antes já assombraram a Humanidade e que agora retornam com preocupante força. Por isto, a renitente pergunta a transversalizar a maioria dos trabalhos aqui apresentados: estaria o mundo de ponta-cabeça?
Ao historicizar esse processo, vemos que desde os idos da II Guerra Mundial uma onda de saudosismo político foi impulsionada por ultraliberais que, no decurso da reestruturação capitalista ocorrida no pós-guerra, coroou uma nova configuração imperialista de escala planetária, que substituiu a sanha imperial inglesa pela estadunidense.
A partir dos anos de 1970, o sistema capitalista viu-se frente à sua mais longa crise econômica (e social). Buscando responder ao quadro de retração acumulativa sistêmica, as classes dominantes articularam, em escala global, uma ordem mundial marcada pela monetarização e financeirização, que reestruturou sua esfera produtiva (novos padrões de desenvolvimento tecnológico – robotização, informatização e automação – e novo regime de produção), espraiou a ideologia do “Estado Mínimo”, preconizou a quebra das fronteiras nacionais para tecnologias, mercadorias e fluxo de capitais. Para tudo isto constituiu novos aparatos jurídicos institucionais de caráter transnacional e ao processo nominou “globalização”.
Nesse contexto, ao pensarmos a temática do citado Colóquio do Museu Pedagógico, sentimos a necessidade de evocar a História para analisar o conjunto da obra como forma de aproximação ao entendimento do momento então vivido, e à mente sobreveio o título de uma das obras de Christopher Hill: O Mundo de Ponta-Cabeça, que historiciza o contexto revolucionário inglês do século XVII, mais precisamente dos anos 40 daquele século.
Não que os tempos atuais lembrem a radicalidade e dinâmica daquela conjuntura, mas pelo quadro de valores, práticas, retrocessos e desesperança que o hoje evoca. Assim, ficamos apenas com o título da obra como ponto de partida para refletirmos sobre a atualidade: estaria o mundo atual de ponta-cabeça?
