José Carlos Marques & Ary José Rocco Jr. (Orgs.) – Qual Legado: Leituras E Reflexões Sobre Os Jogos Olímpicos Rio-2016
Quando o Rio de Janeiro se preparava para organizar os Jogos Pan-americanos de 2007, uma das discussões centrais que já ocupava o espaço da opinião pública àquela altura dizia respeito aos recursos públicos a ser empregados na construção das estruturas esportivas e dos acessos aos locais das competições.
Para uns, a cidade possuía carências múltiplas nas áreas de saneamento, saúde pública, segurança, educação etc., de sorte que não se justificava o emprego de verbas vultosas para a realização de uma competição esportiva.
Para outros, entretanto, os gastos se justificavam pela herança positiva que o cidadão comum usufruiria com o próprio evento e com as obras que passariam a fazer parte da paisagem urbana.
Tal herança ficou sintetizada por meio do termo “legado”; de uso invulgar até então na língua portuguesa falada no Brasil, o vocábulo passou a conviver conosco quase que diariamente em meio às discussões sobre o esporte, sendo também evocado para se justificar a realização no país da Copa do Mundo de Futebol em 2014.
Que o legado dos Jogos Pan-americanos foi uma falácia, isso já sabíamos em 2007 tão logo a competição se encerrou, haja vista a enorme quantidade de denúncias e acusações de mau uso do erário que foram tornadas públicas à época.
O que não imaginávamos era que essa falácia seria ressignificada – com o beneplácito de governos federal, estadual e municipal, entre outros atores – logo que a mesma cidade do Rio de Janeiro teve o conhecimento, em outubro de 2009, de que sediaria os Jogos Olímpicos de 2016.
Inebriados à época pelo fato de organizarmos a primeira olimpíada da América do Sul, acabamos contaminados pelo vírus olímpico antes de saber que seríamos infectados pela dengue, pelo zika vírus ou pela febre amarela, reatualizando sem querer o lema “Muita Saúva, Pouca Saúde, os Males do Brasil São” – célebre frase do escritor Mário de Andrade imortalizada na obra Macunaíma (1928).
Se incluirmos nesse caldeirão as crises política e econômica com as quais tivemos que coexistir às vésperas do início dos Jogos Rio 2016, não é difícil perceber o panorama de enorme turbulência que tínhamos como cenário para apresentar ao planeta durante a “maior festa do esporte mundial”.
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