Antologia Pessoal
– Nesta coletânea traçada com olho crítico, mão sóbria e gosto certeiro, Jorge Luis Borges compilou tudo aquilo que os anos e a arte de ler foram depurando no homem que se vangloriava mais dos livros lidos do que daqueles que havia escrito.
O tempo – o mais arguto dos antologistas – e um cisne singular e tenebroso – o próprio autor enquanto leitor – são os responsáveis pela seleção destas páginas que decerto vão ficar na memória de quem porventura as percorrer.
Não se trata de mera coletânea, composta pelo acaso ou pela displicência, mas de uma escolha significativa, traçada com olho crítico, mão sóbria e gosto certeiro, tudo aquilo que os anos e a arte de ler foram depurando no homem que se vangloriava mais dos livros lidos do que daqueles que havia escrito.
Feito leitor de si mesmo, indicou algumas pegadas de seu percurso, com a agudeza e a precisão que nos acostumamos a esperar dele, embora tenha deixado na sombra outras, como um demiurgo secreto de seu mundo, e assim nos legou nesta síntese simbólica a medida que quis de toda a sua obra.
Em prosa e verso, as formas breves dominam o conjunto escolhido e são peças de um mosaico que afinal nos brinda com a sorrateira imagem de Borges, o autor que quis ser todos e nenhum.
“Minhas preferências ditaram este livro. Quero ser julgado por ele, justificado ou reprovado por ele, não por determinados exercícios de excessiva e apócrifa cor local que andam pelas antologias e de que não consigo me lembrar sem corar. À ordem cronológica preferi a de “simpatias e diferenças”. Comprovei assim, uma vez mais, minha pobreza fundamental; “As ruínas circulares”, de 1939, prefiguram “O Golem” ou “Xadrez”, que são quase de hoje. Essa pobreza não me abate, já que me dá uma ilusão de continuidade.”