Diário Da Tranca

A Cartonera Castelar é um coletivo editorial desenvolvido com o intuito de publicar as produções dos adolescentes em medida socioeducativa de internação.

Quando eu e os meninos começamos o Clube Castelar, em setembro de 2020, convidei-os a escrever um diário de memórias onde pudessem contar um pouco das suas histórias. Disse que eles poderiam dizer o que quisessem e eles toparam! Um deles revelou: “tem coisas que eu não consigo falar, mas consigo escrever”, e confesso que essas escritas têm dado um sentido maior à existência do Castelar. É um movimento que não para. Há as histórias de quem já passou, de quem foi e voltou e dos que estão chegando agora.

Alguns adolescentes não dominam a decodificação das letras, porém não querem deixar de dizer seus sentimentos e, por isso, fiz questão de que eles façam parte deste livro. Eu mesma transcrevi algumas vezes emoções que me foram contadas.

Trazemos diferentes histórias, cada uma com sua singularidade e verdade, e, ao mesmo tempo, muitas coisas em comum, que poderão ser entendidas durante a leitura. Alguns afirmam que o diário tem poucas folhas para dizer o que sentem, outros já confidenciam que não sabem o que dizer. Meninos que querem se fazer escutar através do que falam, mas também do que calam, seja pela extensão do texto ou mesmo pela ausência das palavras.

Não é raro perceber o silêncio que grita nas entrelinhas dos escritos. E seguem algumas histórias. Histórias escritas entre o concreto cinza de suas “pedas” e o frio gelado das grades de ferro. Entre a noite escura no “quadrado” e o reflexo da luz do sol nas frestas que invadem as “celas”. Entre um café com biscoito e a leitura de um texto no nosso cantinho que é o Castelar. Entre o cadeado que fecha para tirar a liberdade de um e o mesmo cadeado que abre para anunciar que o outro pode ir embora.

O Diário Da Tranca é uma promessa que fiz aos meninos: prometi que os mostraria ao mundo. Prometo também que eles podem contar comigo para existirem, inclusive existirem dentro de um sistema que muitas vezes os impede de viver.

O conteúdo deste livro foi produzido pelos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de internação na Unidade da Funase de Arcoverde, no sertão de Pernambuco, a partir do trabalho do Clube Castelar, entre setembro de 2020 a julho de 2021, e assinado pelo coletivo editorial Cartonera Castelar.

A Cartonera Castelar é um coletivo editorial desenvolvido com o intuito de publicar as produções dos adolescentes em medida socioeducativa de internação ou daqueles que já passaram pela medida na Funase de Arcoverde. O nome “castelar” faz referência ao dicionário de palavras que é próprio dos espaços de privação de liberdade. Para os adolescentes, castelar é pensar sobre, refletir, reparar em algo, prestar atenção.

A Cartonera Castelar é mais um projeto desenvolvido dentro do Clube Castelar, que é nosso espaço de leitura, pensado para e com os adolescentes. Nasce do desejo pelo encontro com novas possibilidades socioeducativas, um novo jeito de pensar e fazer; de ir de encontro com muitas práticas violentas do atual sistema de socioeducação. Nesse sentido, Castelar assume um lugar para além do que significa a palavra, marca uma identidade no tempo e no espaço e que não se perde com os anos.

No contexto do projeto, o Castelar permite um novo olhar para o que estamos acostumados a ver e ouvir sobre os adolescentes em privação de liberdade. É sobre reparar em algo nos despindo dos preconceitos arraigados. Castelar nos permite transgredir, e a transgressão nos permite a liberdade.

Mariposa Cartonera é um coletivo artístico-editorial sediado no Recife que confecciona livros com capas de papelão reutilizado, pintadas e costuradas artesanalmente. Fundado em 2013, difunde a literatura de forma sustentável e alternativa, a partir dos princípios da economia solidária e do comércio justo. Todo papelão utilizado é coletado nas ruas, estabelecimentos comerciais ou adquirido de catadores. O coletivo divulga as ideias do movimento cartonero através de oficinas e cursos por todo o país.

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Quando eu e os meninos começamos o Clube Castelar, em setembro de 2020, convidei-os a escrever um diário de memórias onde pudessem contar um pouco das suas histórias. Disse que eles poderiam dizer o que quisessem e eles toparam! Um deles revelou: “tem coisas que eu não consigo falar, mas consigo escrever”, e confesso que essas escritas têm dado um sentido maior à existência do Castelar. É um movimento que não para. Há as histórias de quem já passou, de quem foi e voltou e dos que estão chegando agora.

Alguns adolescentes não dominam a decodificação das letras, porém não querem deixar de dizer seus sentimentos e, por isso, fiz questão de que eles façam parte deste livro. Eu mesma transcrevi algumas vezes emoções que me foram contadas.

Trazemos diferentes histórias, cada uma com sua singularidade e verdade, e, ao mesmo tempo, muitas coisas em comum, que poderão ser entendidas durante a leitura. Alguns afirmam que o diário tem poucas folhas para dizer o que sentem, outros já confidenciam que não sabem o que dizer. Meninos que querem se fazer escutar através do que falam, mas também do que calam, seja pela extensão do texto ou mesmo pela ausência das palavras.

Não é raro perceber o silêncio que grita nas entrelinhas dos escritos. E seguem algumas histórias. Histórias escritas entre o concreto cinza de suas “pedas” e o frio gelado das grades de ferro. Entre a noite escura no “quadrado” e o reflexo da luz do sol nas frestas que invadem as “celas”. Entre um café com biscoito e a leitura de um texto no nosso cantinho que é o Castelar. Entre o cadeado que fecha para tirar a liberdade de um e o mesmo cadeado que abre para anunciar que o outro pode ir embora.

O Diário Da Tranca é uma promessa que fiz aos meninos: prometi que os mostraria ao mundo. Prometo também que eles podem contar comigo para existirem, inclusive existirem dentro de um sistema que muitas vezes os impede de viver.

O conteúdo deste livro foi produzido pelos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de internação na Unidade da Funase de Arcoverde, no sertão de Pernambuco, a partir do trabalho do Clube Castelar, entre setembro de 2020 a julho de 2021, e assinado pelo coletivo editorial Cartonera Castelar.

A Cartonera Castelar é um coletivo editorial desenvolvido com o intuito de publicar as produções dos adolescentes em medida socioeducativa de internação ou daqueles que já passaram pela medida na Funase de Arcoverde. O nome “castelar” faz referência ao dicionário de palavras que é próprio dos espaços de privação de liberdade. Para os adolescentes, castelar é pensar sobre, refletir, reparar em algo, prestar atenção.

A Cartonera Castelar é mais um projeto desenvolvido dentro do Clube Castelar, que é nosso espaço de leitura, pensado para e com os adolescentes. Nasce do desejo pelo encontro com novas possibilidades socioeducativas, um novo jeito de pensar e fazer; de ir de encontro com muitas práticas violentas do atual sistema de socioeducação. Nesse sentido, Castelar assume um lugar para além do que significa a palavra, marca uma identidade no tempo e no espaço e que não se perde com os anos.

No contexto do projeto, o Castelar permite um novo olhar para o que estamos acostumados a ver e ouvir sobre os adolescentes em privação de liberdade. É sobre reparar em algo nos despindo dos preconceitos arraigados. Castelar nos permite transgredir, e a transgressão nos permite a liberdade.

Mariposa Cartonera é um coletivo artístico-editorial sediado no Recife que confecciona livros com capas de papelão reutilizado, pintadas e costuradas artesanalmente. Fundado em 2013, difunde a literatura de forma sustentável e alternativa, a partir dos princípios da economia solidária e do comércio justo. Todo papelão utilizado é coletado nas ruas, estabelecimentos comerciais ou adquirido de catadores. O coletivo divulga as ideias do movimento cartonero através de oficinas e cursos por todo o país.

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