Racionalismo Terapêutico E Subjetividade

Que mal é este que o capitalismo é capaz de engendrar para que tantos de nós precisemos de “manuais especializados” para poder lidar com suas armadilhas? Que mal é este que, com uma intenção explicitada e nada velada, nos promete uma vida de segurança, felicidade e bem estar permanente

que termina por criar uma multidão de endividados, sempre insatisfeitos e tendencialmente infelizes, em busca de um sentido para sua existência? Em recente reportagem de TV sobre a favela da Rocinha no Rio de Janeiro, vimos o depoimento de uma moradora, com um pouco mais de 30 anos, em cujo semblante havia orgulho e prazer ao dizer que tinha em sua casa duas geladeiras, cinco televisores, dois ar-condicionados e três computadores, todos comprados a prestação a longo prazo.
Este depoimento expressa algo bastante significativo sobre o nosso modo de vida na atualidade, como também desencadeia outras questões: Como um desejo desmesurado e insensato se instalou em milhões de pessoas? O segredo nos parece simples: nunca nos é dito – como nos disse André Gorz – que o sistema econômico no qual vivemos se baseia numa dicotomia simples e de fácil compreensão para qualquer camada da população mundial: uma dicotomia entre o “mais” e o “menos”. A lógica, portanto, passa a ser perfeitamente quantificável, comprar mais significa ter mais; ter menos, então, é ser impedido de comprar. O depoimento dado logo acima, indica com clareza esta lógica quantificável e é facilmente assimilado à noção de sucesso e reconhecimento de ascensão social. Um comentário de vizinho sobre esta acumulação é também uma pergunta simples: “Enricou”? Bem sucedido, desse modo, são os que ganham mais e, consequentemente, possuem maior número de bens. Nossa vida no mundo atual tem sido regida por esta lógica quantificável e ostentatória.
André Gorz, grande intelectual francês que esteve ao lado de Jean-Paul Sartre por anos mantendo a revista Les temps Modernes e um dos grandes teóricos sobre o mundo do trabalho, alertou, de forma iluminadora, que há uma possibilidade de rompimento com esta lógica perversa do capitalismo, se nos dispusermos – e haverá um preço emocional para isto – a introduzir a noção de “suficiente” entre o “mais” e o “menos”. Noção esta que implica uma relação por vezes bastante tensa com a dinâmica social na qual nos inserimos, mas que se ancora firmemente, e essencialmente, em critérios pessoais e existenciais. Somos agora, com esta nova lógica, levados a nos perguntar: o que nos basta para vivermos uma vida com a dignidade que queremos, segundo os valores que acreditamos e que se consolidam em nós pela trajetória de vida que construímos?

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Que mal é este que o capitalismo é capaz de engendrar para que tantos de nós precisemos de “manuais especializados” para poder lidar com suas armadilhas? Que mal é este que, com uma intenção explicitada e nada velada, nos promete uma vida de segurança, felicidade e bem estar permanente que termina por criar uma multidão de endividados, sempre insatisfeitos e tendencialmente infelizes, em busca de um sentido para sua existência? Em recente reportagem de TV sobre a favela da Rocinha no Rio de Janeiro, vimos o depoimento de uma moradora, com um pouco mais de 30 anos, em cujo semblante havia orgulho e prazer ao dizer que tinha em sua casa duas geladeiras, cinco televisores, dois ar-condicionados e três computadores, todos comprados a prestação a longo prazo.
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André Gorz, grande intelectual francês que esteve ao lado de Jean-Paul Sartre por anos mantendo a revista Les temps Modernes e um dos grandes teóricos sobre o mundo do trabalho, alertou, de forma iluminadora, que há uma possibilidade de rompimento com esta lógica perversa do capitalismo, se nos dispusermos – e haverá um preço emocional para isto – a introduzir a noção de “suficiente” entre o “mais” e o “menos”. Noção esta que implica uma relação por vezes bastante tensa com a dinâmica social na qual nos inserimos, mas que se ancora firmemente, e essencialmente, em critérios pessoais e existenciais. Somos agora, com esta nova lógica, levados a nos perguntar: o que nos basta para vivermos uma vida com a dignidade que queremos, segundo os valores que acreditamos e que se consolidam em nós pela trajetória de vida que construímos?

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