O grande escritor norte-americano, autor do cultuado O apanhador no campo de centeio, retoma em Carpinteiros, lançado em 1963, a história da família Glass, iniciada em Nove Estórias e levada adiante em Franny e Zooey.
O narrador de Carpinteiros é Buddy, um dos sete filhos da família Glass e irmão de Seymour, protagonista do livro. Ele, porém, é um protagonista ausente, já que aparece apenas por meio da voz de Buddy. Logo no início, fica-se sabendo que Seymour se suicidou aos 31 anos, em férias com sua esposa na Flórida – episódio relatado em Nove Estórias, no conto “Um dia ideal para os peixes-banana”.
A primeira das duas histórias de Carpinteiros gira em torno do casamento não-realizado de Seymour, que às vésperas da cerimônia pede para adiar a celebração, já que se sente animado demais para casar. A história se passa num dia muito quente de 1942, e se concentra praticamente em dois espaços: um carro, no qual Buddy fica preso com a madrinha da noiva e seu marido, uma tia da noiva e um senhor surdo-mudo, e no apartamento que Seymour e Buddy dividiam em Nova York antes de serem convocados para a Guerra.
O narrador, nesse dia fatídico, é confrontado com a raiva dos outros ocupantes do carro, que não se conformam com o fato de seu irmão ter abandonado a noiva no altar. Buddy passa então a analisar a vida familiar e, mais especificamente, a trajetória de Seymour até aquele momento. Todos os sete irmãos, Franny, Zooey, Walt e Waker (gêmeos), Boo Boo, Buddy e Seymour, o mais velho, participaram durante grande parte da infância e da adolescência, como convidados pagos, do programa radiofônico “Crianças sabidas”. Seus pais, artistas de vaudevile, encorajavam seus filhos-prodígio a participarem do programa, mas com a ressalva de usarem pseudônimos para preservar a identidade. Será que essa superexposição transformou essas crianças em adultos-problema? Essa pergunta nunca é formulada, mas talvez seja o cerne destas duas histórias e do próprio O apanhador no campo de centeio, que tem como tema principal o drama da adolescência.
Em Seymour, uma apresentação, Buddy estabelece um diálogo muito próximo com o leitor. Por meio desse narrador, Salinger fala sobre o ato de escrever, mostrando com ironia a tentativa de Buddy de organizar e publicar a obra do irmão falecido, a fim de esclarecer um pouco mais a personalidade deste. Buddy/Salinger discutem e ironizam a crítica literária, mas falam muito de poesia e criação: Kafka, Tchekhov, Somerset Maugham, poesia chinesa e japonesa são citados nesta apresentação, cuja genialidade está em levantar ainda mais dúvidas sobre este grande personagem, Seymour.
Faça uma doação para a Biblioteca Livr’Andante
e ganhe esta camisa ou escolha outros dos
nossos brindes.