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Músicas são catalisadores de sentimentos, que nos movem a preencher uma página em branco ou a projetar na tela da memória lembranças photoshopadas. Seja por causa da nostalgia precoce dos nossos dias, seja porque somos movidos pelo hábito de buscar, no vocabulário das insônias, por palavras capazes de descrever nossas reminiscências da forma mais bonita possível. Que atire o primeiro iPod, pois, aquele que nunca teve uma trilha sonora que marcou momentos especiais em sua vida, ou que nunca cometeu um poema, um conto ou uma carta de amor ouvindo uma canção escolhida a dedo.
Música e literatura combinam tão bem quanto letra e melodia.
Prova disso são as muitas canções que foram inspiradas por livros, como “Don’t Stand So Close to Me”, do Police, que cita “Lolita” de Vladimir Nabokov. Ou “White Rabbit”, viagem do Jefferson Airplane cujo ponto inicial foi a leitura de “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll. E não posso deixar de citar Kate Bush, outra leitora compulsiva que compôs “Wuthering Heights” a partir de “O Morro dos Ventos Uivantes”, de Emily Bronte, e “The Sensual World”, canção inspirada pelo monólogo de Molly Bloom no capítulo final de “Ulisses”, de James Joyce. Ou “O Estrangeiro”, de Albert Camus, que além de ter inspirado “Killing an Arab”, do The Cure, é citado na letra de “A Revolta dos Dândis”, sucesso dos Engenheiros do Hawaii cujo título é o mesmo de um dos capítulos de “O Homem Revoltado”, outro livro de Camus. Caetano Veloso, compositor de “A Terceira Margem do Rio” (música homônima do conto de Guimarães Rosa), é outra referência na área. E isso só para citar alguns exemplos desta sinergia bem-sucedida entre obras literárias e musicais.
O inverso também ocorre. O jornalista e escritor Ronaldo Bressane convidou autores como Luis Fernando Veríssimo, Mia Couto e Xico Sá para criarem ficções que foram reunidas no livro “Essa História Está Diferente – Dez Contos para Canções de Chico Buarque”. O escritor Henrique Rodrigues organizou duas antologias de contos baseados em músicas dos Beatles e da Legião Urbana.
Escuta Essa reúne 31 contos, escritos por jornalistas, músicos e blogueiros, através de músicas brasileiras.
O livro é estruturado da seguinte forma: na página que antecede cada história, tem o nome do artista e da canção, com o link para letra e áudio e pequena biografia do autor e ilustrador do conto.
Os artistas da obra são: Los Hermanos, Vanguart, A Banda Mais Bonita da Cidade, Thiago Pethit, Graveola e o Lixo Polifônico, Quarto Negro, Pato Fu, Gram e Garotas Suecas, entre outros.“Escuta Essa” reúne 31 contos, escritos por jornalistas, músicos e blogueiros, através de músicas brasileiras.